Setor mineral contesta novas regras da ANM sobre 225 milhões de toneladas de rejeitos de mineração

Publicado em

As principais mineradoras do Brasil, responsáveis por cerca de 85% da produção nacional, estão enfrentando um novo embate jurídico. Desta vez, o centro da polêmica gira em torno das novas normas impostas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) sobre o reaproveitamento de rejeitos — subprodutos da extração de minérios como ferro, ouro e bauxita, que somam mais de 225 milhões de toneladas por ano.

A ação foi movida pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que representa mais de 200 empresas do setor, incluindo grandes nomes como Vale, Alcoa, Samarco e Companhia Brasileira de Alumínio. Segundo o Ibram, as recentes resoluções da ANM ultrapassam os limites legais ao impor novas obrigações sobre materiais depositados fora das áreas concedidas à mineração, o que, na visão do instituto, contraria o Código de Mineração e fere o direito de propriedade das empresas sobre esses resíduos.

Mercado bilionário e impacto ambiental impulsionam debate sobre rejeitos de mineração

Embora muitas vezes vistos como descarte, os rejeitos de mineração têm ganhado novo valor no cenário industrial. Parte do material resultante da extração de ferro, por exemplo, já é transformada em areia industrial utilizada na construção civil. Já os resíduos da bauxita, que representam cerca de 70% do volume extraído, são utilizados na produção de tijolos e cimento.

No caso do ouro, a produção anual de 100 toneladas exige o processamento de ao menos 100 milhões de toneladas de minério, gerando uma enorme quantidade de rejeitos com potencial de reutilização.

Estudos recentes apontam que o reaproveitamento desses materiais pode movimentar mais de R$ 20 bilhões por ano apenas no mercado de areia produzida a partir de rejeitos, demonstrando a importância econômica do tema.

A ANM, embora tenha preferido não comentar oficialmente a disputa judicial, já indicou nos autos do processo que busca padronizar o reaproveitamento desses materiais e esclarecer os direitos dos proprietários das terras onde os rejeitos foram depositados. A agência argumenta que as novas diretrizes visam evitar conflitos e garantir maior segurança jurídica e ambiental.

Indústria vê risco regulatório e teme retrocesso

Para o Ibram, as resoluções representam um “passivo regulatório” que ameaça tanto a segurança quanto a sustentabilidade do setor mineral. A entidade argumenta que, apesar de reconhecer a boa intenção da agência, o processo de elaboração das normas desconsiderou as contribuições da indústria e pode resultar em graves impactos ambientais e operacionais.

Além disso, o debate ocorre em meio a críticas mais amplas à estrutura da ANM. O Sindicato Nacional dos Servidores das Agências de Regulação (Sinagências) destacou em nota a necessidade urgente de reforço orçamentário e contratação de pessoal para a agência, enfatizando que investimentos em regulação não podem surgir apenas após tragédias.

A discussão também se conecta diretamente ao acordo de repactuação da tragédia de Mariana, homologado em 2024 pelo STF, que prevê R$ 1 bilhão para ações de prevenção de riscos no setor. O momento, portanto, é crucial para definir os rumos da mineração brasileira, especialmente quando os rejeitos, antes ignorados, se tornam peça-chave na disputa entre regulamentação, sustentabilidade e lucro.

Matérias Relacionadas

‘Biossólido Itabira’ irá transformar lodo da Estação de Tratamento de Esgoto Laboreaux em um insumo agrícola

O “Biossólido Itabira”, uma colaboração entre o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de...

‘Festival Fartura Dona Lucinha’ agita cidades de Serro e Conceição do Mato Dentro

Entre os dias 20 e 28 de maio, o "Festival Fartura Dona Lucinha" chega...

‘Festival Os Sons do Brasil’ chega em Ouro Preto e Mariana entre 20 a 22 de junho

Entre os dias 20 a 22 de junho, Ouro Preto e Mariana serão palcos...

‘Sextou’ com vagas! Sine Itabira fecha a semana com 95 novas oportunidades de emprego

Confira as vagas de emprego abertas no Sine Itabira para quem busca uma recolocação no mercado de trabalho nesta sexta-feira (23)

últimas Matérias

 Anglo Gold Ashanti tem vagas de estágio para níveis técnico e superior

Vagas se destinam tanto a atuações presenciais quanto híbridas, com carga horária diária de 6 horas; Inscrições podem ser feitas pela internet até 31 de agosto

 Ato em defesa da ANM – servidores protestam pela estruturação da Agência Nacional de Mineração

Servidores da Agência Nacional de Mineração estão com as atividades paralisadas como forma de...

 Cidade das gemas: moradores de Teófilo Otoni vivem terror com guerra entre facções criminosas

Bandidos trocaram tiros com a Polícia na noite desta quinta-feira; PCC e Comando Vermelho vêm amedrontando moradores da cidade nas últimas semanas

 Funcionários dos Correios desistem de greve na véspera da Black Friday

Servidores cogitavam paralisação para reivindicar correções em Acordo Coletivo e melhores condições de trabalho, mas desistiram da ideia após terem pedidos considerados pelos Correios