A história não se repete… mas ensina

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Meus mestres e doutores em História ensinaram-me em cursos de graduações e pós que a repetição de fatos no decorrer do  tempo  só pode ser coincidência. Apesar de tudo,  muitos leigos e profissionais ainda insistem no termo “a história se repete”. Pode servir como uma figura de sintaxe, mas não copia a verdade absoluta. É o que entendidos pensam cientificamente.

Velhos tempos

Nos anos 1960, a estatal Companhia Vale do Rio Doce impunha a sua regra de governança a Itabira e região, como estivesse proferindo a frase: “Aqui eu mando, aqui contrato a mão de obra que quero e imponho preços em imóveis, tanto para aluguéis quanto para compra ou venda”. E assim o tempo se arrastou, de um lado o puxa-saquismo tradicional, além da competência, e de outro uma minoria que comeu o pão amassado pelo tão falado e temido demônio.

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Extração de minério em Itabira

Exemplo de domínio

Para não buscar exemplo distante, vou falar de mim mesmo. Já fui tratado como rei,  assim como escravo descarado, pelas regras impostas por tal filosofia. Querem provas? Em 1966 aqui cheguei com um par de roupas no corpo. Depois de  instalar-me numa pensão, fui a uma casa comercial e lá adquiri quase um caminhão de roupas, sem um centavo no bolso, nem no banco. Mas pude mostrar a carteira de trabalho assinada no dia anterior. Tornei-me bem-vindo, um cidadão que parecia ter na testa a placa: “cliente especial”.

Exaustão, assombração itabirana

O tempo passou e Itabira começou a curtir uma espécie de síndrome da exaustão, data cada vez mais próxima. Implantou projetos teóricos — um exemplo: Itabira 2025 — mas o domínio da Vale continuou intenso, embora mais pendente a impor-nos  medo de perder o dinheiro que corre pelos ares e poucos agarram. Falamos tanto em “o minério não dá duas safras”, mas depois, em novas buscas no solo, ele se multiplica. A boca pequena não acredita mais nem em fim da hematita, o minério de ferro mais caro e raro.

“Gente boa”

E agora?  A Vale volta a encher a cidade de “gente boa”, como dizia, ironicamente, o saudoso Chiquinho Alfaiate.. Quer dizer que o dinheiro  voa   para as contas de  magnatas e até de grande parte da classe média. Parece repetir-se o tempo, ou a história, só que os que estão, como eu em 1966, com um par de roupas, sejam pobres indefensáveis. Vamos socorrê-los, porque agora o trem está feio. A população cresceu e a oferta da mão de obra se encolheu, ou se qualificou.

Começa a Vale a secar barragens de rejeito, terror de gente responsável. Desembarcam os donos das ruas, becos e avenidas, de caminhonetes sujas de barro vermelho, sinal de que a SA avança para raspar o tacho dos novos picos, até nas cavas têm riquezas ainda.

Enfim, lições

Seria a volta ao passado, uma repetição de fatos antigos? Repito não haver tal regra no vocabulário histórico-científico. Antigamente não existiam leis para conter a ganância e fatos inesperados. Hoje, sim, há mãos a serem seguradas, é só buscar leis desconhecidas, fáceis de serem acionadas.

Conceição do Mato Dentro (vai crescer mais) e Morro do Pilar (vai ter gente inteligente até queimando dinheiro como se estivessem chegando de uma  “Serpentina”) entram em regime de espera do dinheiro fácil, enquanto Itabira não pode perder a posição de liderança. Cuidem-se.

Que tudo seja bem feito com mais razão que emoção. Precisamos dos dólares, mas também nunca esqueçamos a qualidade de vida. A história, como coincidência, pode conter lições de sabedoria.

 

Até a próxima.

 

José Sana

 

Nota: “Serpentina” é o nome da mina que será explorada em breve, localizada entre os municípios de Conceição do Mato Dentro e Morro do Pilar.

 

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