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Especial Revista – A Itabira do futuro: um pacto pela sustentabilidade

Fotos: Ronan Fabrício/ ItaDrone- Prefeitura, Vale e entidades locais trabalham como parceiras para amenizar o fim do ciclo de exploração mineral em Itabira e já enumeram estratégias e desafios

 

Em reverência aos 175 anos de emancipação política e administrativa de Itabira (há quem diga que sejam 190 anos), comemorados nesta segunda-feira, 9 de outubro, o CidadesMineradoras.com.br reapresenta a série de reportagens sobre a Itabira do Passado, a Itabira do Presente e a Itabira do Futuro. As reportagens, publicadas no último mês de agosto, na Edição Especial da Revista Cidades e Minerais, trazem a história da mineração no município, contando como a atividade forjou o modo de vida da população de Itabira e mostrando como a cidade se mobiliza para enfrentar o desafio do fim da exploração mineral, previsto para 2041 pela Vale.  A Itabira, o CidadesMineradoras.com.br deseja prosperidade e criatividade para se reinventar em busca de um novo modelo de desenvolvimento.

 

O futuro é agora. Itabira já percebeu que não é possível ficar esperando a Vale encerrar seu ciclo na cidade para depois ver o que vai acontecer. Embora haja a crítica de que as ações ainda sejam incipientes, o debate sobre diversificação econômica movimentou as últimas décadas no município antes mesmo de a mineradora anunciar oficialmente o fim do ciclo de exploração mineral em Itabira.

Discussões entre a Prefeitura e a Vale resultaram no projeto Itabira Sustentável, envolvendo iniciativas para criar alternativas ao cenário de dependência da mineração e em soluções que garantam sustentabilidade ao município. Logo no início de seu mandato, o prefeito Marco Antônio Lage apresentou à direção da Vale, incluindo o presidente Eduardo Bartolomeo, uma proposta de cogerenciamento desse plano de sustentabilidade. Desde então, toda a elaboração é acompanhada por uma consultoria internacional financiada pela própria mineradora.

“Da nossa parte, o que temos falado com a empresa é de que confiamos que o modelo de cogestão desse plano é o melhor caminho. Acreditamos, de verdade, que o diálogo franco e a divisão de responsabilidades trarão bons frutos para o presente e o futuro de Itabira. Desde as primeiras conversas já foi montado um grupo estratégico, formado por pessoas indicadas pela Prefeitura e pela Vale. Isso evoluiu para os grupos temáticos, que hoje finalizam os planos que serão validados pela sociedade e colocados em execução. Teremos ações importantes em 2023, que serão vitais para o futuro de Itabira como um todo”, esclarece o prefeito.

O gerente executivo do complexo Itabira da Vale, Daniel Daher, reafirma o compromisso: “O objetivo é identificar a vocação de Itabira e construir estratégias de curto, médio e longo prazo para apoiar o desenvolvimento socioeconômico do município”. O gerente ainda destaca que foram traçados quatro eixos de atuação, a partir do diagnóstico feito a partir da consultoria especializada: diversificação econômica, Ordenamento territorial e urbano e mobilidade, além da recuperação e preservação ambiental.

A Prefeitura definiu, em acordo com a mineradora, a partir destes quatro eixos estratégicos as diretrizes que nortearão os projetos finais, em discussão dentro dos Grupos de Trabalho (GT), compostos por representantes de setores ligados a cada tema. Os projetos estão em fase de proposição e se dividem em 15 Programas (ver box). Todos serão apresentados em um portal específico, com detalhamento das propostas, métricas e ações de acompanhamento.

BOX

Saindo do papel

A Prefeitura e a Universidade Federal de Itajubá (Unifei) em Itabira trabalham visando conseguir recursos para concluir as obras de ampliação do campus da instituição no município. O prefeito Marco Antônio Lage espera que a Unifei passe a atender cerca de 10 mil alunos e projeta que a expertise da instituição, agregada ao novo curso de Medicina do Centro Universitário Funcesi, transforme a cidade, num futuro breve, em um importante polo do conhecimento. Está em negociação a criação de um Parque Tecnológico e Científico capaz de atrair novos investimentos e contribuir significativamente para a geração de empregos em Itabira.

A Vale contribuiu com a Funcesi com um aporte de R$ 8,8 milhões, para ser utilizado na infraestrutura de um moderno laboratório de e Habilidades e Simulação Realísticas do Curso de Medicina. A primeira turma do curso foi fechada e os primeiros alunos aprovados no vestibular para 60 vagas já começaram a frequentar as aulas no último mês de julho, fato considerado histórico para o município.

Funcesi desenvolve papel fundamental para a economia do município

“Nossa proposta é oferecer um curso de Medicina com o diferencial da qualidade, da excelência, para que a gente possa contribuir com a formação de mão de obra de médicos para as diversas instituições de saúde. Vale lembrar a importância desses médicos para atenção primária, nos PSFs, na rede pública não só do município, mas de toda a região”, destacou a reitora da instituição, Flávia Pantuza.

O diretor de Gestão de Territórios da Vale, Luiz Henrique Medeiros, enfatiza a importância do curso para estabelecer Itabira como um importante polo regional: “Estamos trabalhando com saúde, educação e geração de renda. Para nós é uma satisfação muito grande estar aqui hoje ajudando a viabilizar essa parceria. O curso foi muito bem planejado e está bem estruturado pela Funcesi. Temos certeza que será um grande sucesso para Itabira e toda região”.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Itabira, Vinícius Rocha, r revela que, já em 2024, a Unifei deve oferecer pós-graduação na área: “Como a Funcesi trouxe o curso de Medicina para Itabira, ficou acordado que a Unifei desenvolverá uma pós-graduação em Tecnologia Aplicada à Medicina. Este é mais um projeto dentro de uma das vocações para a sustentabilidade de Itabira, que é ser também um polo de saúde”.

Caminho pavimentado

Outro exemplo materializado da importância desse polo de conhecimento é um estudo feito pela Vale em parceria com a Unifei, desenvolvido nos últimos anos. Trata-se da utilização de rejeitos da mineração para pavimentação de vias. A pista experimental de Cauê está em teste há cerca de um ano, com 96 sensores instalados, e apresenta resultados satisfatórios. Estima-se que a técnica usada aumente em 50% a eficiência da obra de pavimentação e diminua em 20% seus custos.

O potencial da chamada “areia sustentável” é explicado pela engenheira da Vale responsável técnica da pesquisa, Laís Resende: “Este projeto abriu várias portas. Como a gente já viu que o material funciona, tem várias áreas internas da Vale que estão utilizando o conhecimento gerado e também têm clientes que já estão usando a areia para pavimentação de estradas”.

Mais uma importante iniciativa em andamento é a captação de água do Rio Tanque para garantir o abastecimento do município. O projeto básico também foi desenvolvido a partir de parceria entre Prefeitura de Itabira e a Vale.

Vale desenvolve projeto para captar água do Rio Tanque e assegurar abastecimento da população e de atividades industriais por 30 anos

De acordo com a mineradora, o pedido de licenciamento está protocolado. O protocolo de demanda energética também foi feito, junto à Cemig. O município, por sua vez, decretou o projeto de Utilidade Pública. Ele prevê a construção de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) com capacidade de captar 600 litros de água por segundo. “Estamos empenhados para que o Projeto Rio Tanque seja concluído com agilidade, seguindo todas as legislações e normas exigidas”, assegura Daniel Daher.

O projeto está sendo elaborado para ter um sistema robusto, com capacidade de atender a demanda de Itabira por 30 anos. Não somente atendendo a demanda populacional, como também uma demanda industrial que vier a ser instalada no futuro”, complementa Jorge Martins Borges, engenheiro sanitarista do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae)

Itabira vetor de Desenvolvimento regional 

A presidente da Associação Comercial, Industrial de Serviços e Agropecuária de Itabira (Acita), Cássia Menezes, destaca o papel estratégico do Plano Regional de Desenvolvimento do Médio Piracicaba para integrar inciativas capazes de promover a sustentabilidade econômica de Itabira atrelada aos municípios de João Monlevade, Alvinópolis, Bela Vista de Minas, Rio Piracicaba, Nova Era, Santa Bárbara, São Gonçalo do Rio Abaixo e São Domingos do Prata, por meio de suas associações locais.

Diversificar a economia, gerar desenvolvimento socioeconômico sustentável e atrair empresas de outros setores distintos da mineração são processos de longo prazo, que exigem planejamento e execução de estratégias integradas nos próximos dez anos, segundo Cássia Menezes.

“As Associações Comerciais trabalham com pragmatismo e visão de mercado, por isso o Plano de Desenvolvimento foca na criação de um ambiente propício ao desenvolvimento de novos negócios, com estratégias voltadas à eliminação de gargalos (como burocracia por exemplo), aumento da competitividade dos municípios para atrair empresas, melhoraria da infraestrutura para elevar os indicadores de qualidade de vida, qualificação das pessoas visando a ocupação de postos de trabalho com melhor remuneração, preservação ambiental com ênfase em negócios sustentáveis e políticas públicas que reduzam as desigualdades socioeconômicas”, explica a presidente da Acita.

“Para instituir a necessária convergência com políticas públicas já existentes, este Plano busca um alinhamento com Política Nacional de Desenvolvimento Regional do Ministério do Desenvolvimento Regional que preconiza sua atuação em prol da redução das desigualdades. Estabelecido sob quatro eixos – Fortalecimento do Associativismo, Sustentabilidade e Novos Negócios. Inovação e Desburocratização e Competividade Territorial – o Plano Regional priorizou estratégias estruturantes neste primeiro ciclo”, complementa a empresária.

A presidente da Acita lembra que a instituição completará 100 anos em 2025, atuante em Itabira antes mesmo de a Vale existir: “Toda cidade é um organismo dinâmico e altamente marcado por mudanças que exigem um permanente olhar para novas oportunidades e desafios, especialmente perceptíveis pela interdependência das relações com outros municípios vizinhos. Note-se aqui o conceito de território para o planejamento de estratégias para o desenvolvimento, numa clara visão de ecossistema.

Por conta dessa realidade, a Acita trabalha em harmonia com os municípios da região no Plano Regional de Desenvolvimento do Médio Piracicaba e na consolidação da Agenda 100 anos, com uma pauta que foi apresentada aos Conselheiros da Vale”.

Leia também a reportagem A Itabira do Passado: do ouro ao minério de ferro

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