A energia está no centro do desenvolvimento econômico e social, influenciando diretamente a qualidade de vida e o progresso global. A produção e o consumo de energia variam significativamente entre países, refletindo disparidades econômicas, tecnológicas e de recursos naturais. Contudo, a oferta, o consumo e os impactos ambientais associados à produção de energia revelam desafios significativos e tomadas de decisões assertivas, que exigem atenção de governos, empresas e da sociedade.
A Organização das Nações Unidas, por meio do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 (ODS 7), estabelece metas para assegurar o acesso universal, confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia, até 2030. As principais metas incluem aumentar substancialmente a participação de energias renováveis na matriz energética global, dobrar a taxa global de melhoria da eficiência energética, reforçar a cooperação internacional para facilitar o acesso a pesquisa e tecnologias de energia limpa.
Isso inclui energias renováveis, eficiência energética e tecnologias de combustíveis fósseis avançadas e mais limpas, além de promover o investimento em infraestrutura de energia e em tecnologias de energia limpa, expandir a infraestrutura e modernizar a tecnologia para o fornecimento de serviços de energia modernos e sustentáveis para todos nos países em desenvolvimento, particularmente nos países menos desenvolvidos, nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento e nos países em desenvolvimento sem litoral, de acordo com seus respectivos programas de apoio. Em suma, democratizar, de forma substancial, o acesso à energia.
Mineração e energia
O setor minerário desempenha um papel ambivalente nesse contexto, atuando tanto como consumidor intensivo quanto como produtor de insumos essenciais para a geração de energia. A interseção entre mineração, energia e sustentabilidade é um campo que exige uma abordagem integrada e comprometida.
A matriz energética global ainda é predominantemente composta por combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural, que representam cerca de 80% do consumo mundial. Embora fontes renováveis, como solar e eólica, estejam em ascensão, os avanços são desiguais entre os países.
No Brasil, a matriz energética é uma das mais limpas do mundo, com cerca de 45% da energia proveniente de fontes renováveis. A energia hidrelétrica lidera, seguida por biomassa e, mais recentemente, pela expansão significativa de energia solar e eólica.
A mineração está profundamente integrada a esse cenário. Paralelamente ao fato de ser uma das maiores consumidoras de energia no processo de extração e processamento de minérios, o setor é responsável pela produção de minerais indispensáveis para a transição energética, como o lítio, o cobalto e o cobre. Esses elementos são fundamentais para a fabricação de baterias, turbinas eólicas e painéis solares, tornando a mineração uma peça central na expansão das energias renováveis.
Contudo, essa contribuição tem um custo: os impactos ambientais associados à extração mineral incluem poluição de solos e águas, degradação de ecossistemas e emissões significativas de gases de efeito estufa. Esse custo da energia varia conforme a fonte e a região. Combustíveis fósseis, embora ainda amplamente utilizados, estão associados a altos custos ambientais, incluindo emissões de gases de efeito estufa, poluição do ar e impactos na saúde pública.
As energias renováveis, por outro lado, têm custos iniciais mais elevados devido à infraestrutura necessária, mas oferecem benefícios ambientais substanciais e custos operacionais mais baixos a longo prazo, segundo as atuais avaliações do setor.
No Brasil, onde a mineração desempenha um papel extremamente relevante na economia, a dependência de energia elétrica por parte das mineradoras é alta, especialmente em processos como beneficiamento de minérios e bombeamento de rejeitos. Apesar disso, algumas empresas do setor têm investido em geração própria de energia, utilizando fontes renováveis para reduzir custos e mitigar impactos ambientais. Esse movimento é uma resposta às crescentes pressões por sustentabilidade e à necessidade de alinhar operações aos critérios de ESG (Ambiental, Social e Governança).
Nova demanda
Outro elemento disruptivo no debate energético é o consumo crescente associado ao avanço da inteligência artificial (IA). A evolução tecnológica é uma realidade e a IA tem papel primordial no avanço e nos alcances que produz. A evolução da Inteligência Artificial (IA) é indiscutivelmente uma das forças mais transformadoras do nosso tempo. A IA, que já impacta profundamente setores como saúde, transporte e mineração, exige volumes significativos de energia para o treinamento e a operação de modelos complexos.
Dados recentes indicam que o treinamento de um único modelo de IA generativa pode consumir energia suficiente para abastecer uma cidade de pequeno porte por dias. Essas demandas colocam uma pressão adicional sobre a matriz energética global, desafiando o cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 (ODS 7), que busca assegurar o acesso universal, sustentável e acessível à energia até 2030.
Esse elevado consumo energético da IA representa um grande desafio para o cumprimento do ODS 7, pois aumenta a demanda por energia e, consequentemente, as emissões de gases de efeito estufa. Fora o problema do gasto de energia, em si, há o problema da pegada de carbono associado ao uso de IAs. A título exemplificativo, em 2022, as emissões de carbono provenientes do treinamento do GPT3 foram estimadas em 502 toneladas. Governos e organizações internacionais devem estar atentos a essa questão, buscando equilibrar os benefícios da IA com práticas sustentáveis.
Iniciativas podem incluir o desenvolvimento de hardware mais eficiente, otimização de algoritmos e a utilização de fontes de energia renováveis para alimentar data centers. Para evitar que a revolução tecnológica se transforme em uma crise ambiental, à medida em que há a continuidade da expansão dos limites do que a IA pode alcançar, devem ser cobrados, efetivamente, os necessários compromissos com práticas que minimizem seu impacto no planeta.
E a mineração tem importantíssimo papel nessa evolução e no correspondente compromisso com a sustentabilidade, uma vez que se posiciona como um setor estratégico para o fornecimento de insumos essenciais à tecnologia, incluindo a própria IA. Componentes como chips e sensores dependem de minerais raros e de processos intensivos em energia para serem fabricados. O impacto não se limita à exploração desses recursos; a pegada energética das cadeias produtivas se estende a todos os níveis, do transporte ao descarte de resíduos.
Para equilibrar os impactos negativos, soluções devem ser desenvolvidas, dia a dia. A adoção de fontes renováveis pelas mineradoras, como solar e eólica, e a implementação de tecnologias de monitoramento e eficiência energética são passos importantes. No entanto, essas ações ainda são tímidas frente à escalada dos desafios. A coordenação entre políticas públicas e iniciativas privadas é essencial para que o setor mineral cumpra sua responsabilidade ambiental sem comprometer sua contribuição econômica.
A energia está e estará sempre no cerne das transformações globais, não há dúvidas, e seu uso eficiente e sustentável é um dos maiores desafios do século XXI. O setor minerário, ao mesmo tempo em que contribui para a expansão das energias renováveis, deve repensar suas práticas para reduzir seus impactos e colaborar efetivamente para um futuro mais equilibrado. Nesse cenário, a inteligência artificial surge como um alerta para a necessidade de soluções inovadoras e sustentáveis que atendam às demandas crescentes sem comprometer os compromissos ambientais. É nesse equilíbrio que reside a possibilidade de garantir um desenvolvimento que, de fato, beneficie toda a sociedade.
Alcançar as metas do ODS 7 requer esforços coordenados entre governos, setor privado e sociedade civil, promovendo investimentos em energias limpas, eficiência energética e inovação tecnológica.