Mineração: como fica o chão que pisamos?

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A mineração é uma atividade vital para o desenvolvimento econômico global, já o sabemos. Mas também é uma das principais causas de degradação ambiental. Na sequência iniciada na última semana, sobre as contaminações passíveis de ocorrerem, em decorrência dessa atividade, este artigo examina os impactos da mineração no solo, incluindo a contaminação por resíduos e metais pesados, e os meios possíveis de solucioná-los ou preveni-los.

No desenvolvimento da atividade minerária, podem ocorrer diversos tipos de degradação do solo, sendo a contaminação por metais pesados uma das mais graves. Esses metais pesados, comumente encontrados em resíduos de mineração, podem infiltrar-se no solo, contaminando a terra e também os lençóis freáticos, o que leva a um efeito cascata de poluição na água e na cadeia alimentar. Esse tipo de contaminação pode causar sérios danos à saúde humana e à biodiversidade local. Além dos metais pesados, a deposição de rejeitos e a erosão causada pela remoção da cobertura vegetal também contribuem para a degradação do solo.

Os processos de extração e beneficiamento de minerais resultam em diversos tipos de contaminação, sendo a poluição por metais pesados um dos problemas mais críticos e duradouros.

Metais pesados como chumbo, cádmio, mercúrio e arsênio são subprodutos comuns das atividades de mineração, especialmente em operações que envolvem a extração de metais como ouro, prata e cobre. Esses elementos, presentes nos resíduos gerados pela mineração, podem se infiltrar no solo através de lixiviação, processo no qual a água da chuva ou das operações de lavagem transporta esses contaminantes para as camadas mais profundas do solo e, eventualmente, para os lençóis freáticos​. A presença desses metais no solo é altamente prejudicial, pois eles são tóxicos para a maioria das formas de vida, incluindo plantas, animais e seres humanos.

A contaminação por metais pesados afeta a estrutura química e biológica do solo, alterando sua capacidade de sustentar a vida vegetal. Plantas que crescem em solos contaminados tendem a acumular esses metais em seus tecidos, o que pode levar à bioacumulação e biomagnificação na cadeia alimentar. Isso significa que os metais pesados presentes nas plantas são transferidos para os animais herbívoros e, eventualmente, para os seres humanos, causando uma série de problemas de saúde, como doenças renais, problemas neurológicos e câncer.

Além disso, a contaminação dos lençóis freáticos representa um risco ainda maior, pois compromete a qualidade da água subterrânea, que é uma fonte essencial de água potável em muitas regiões. A presença de metais pesados na água pode tornar a água imprópria para consumo humano e para irrigação, afetando assim a agricultura e a segurança alimentar.

Outro impacto significativo da mineração no solo é a deposição de rejeitos, que são os materiais descartados após a extração e processamento dos minerais. Esses rejeitos são frequentemente armazenados em barragens ou em pilhas ao ar livre, e podem incluir uma mistura de rochas moídas, produtos químicos e resíduos líquidos. A gestão inadequada desses rejeitos pode levar à contaminação do solo, especialmente se houver vazamentos ou rompimentos de barragens, como foi o caso do desastre de Mariana​ (2015).

A deposição contínua de rejeitos pode alterar drasticamente a composição e a estrutura do solo. Em muitos casos, os resíduos contêm minerais sulfurosos que, quando expostos ao ar e à água, se oxidam, produzindo ácido sulfúrico. Esse processo, conhecido como drenagem ácida de minas, pode acidificar o solo, tornando-o estéril e incapaz de sustentar a vegetação. A acidez também mobiliza metais pesados presentes no solo, aumentando ainda mais o risco de contaminação.

Além da deposição de rejeitos, a remoção da cobertura vegetal durante a mineração expõe o solo à erosão. A vegetação desempenha um papel extremamente significativo na proteção do solo contra a erosão, mantendo a estrutura do solo intacta e ajudando a reter a umidade. Sem essa proteção, o solo fica vulnerável à ação do vento e da água, o que pode levar à perda de camadas superficiais férteis. A erosão não só degrada a qualidade do solo, mas também pode levar à sedimentação de rios e corpos d’água próximos, causando impactos ambientais em larga escala.

A combinação de contaminação por metais pesados, deposição de rejeitos e erosão pode resultar na desertificação, que é a transformação de áreas férteis em terras áridas e improdutivas. Quando o solo perde sua capacidade de reter água e nutrientes, ele se torna incapaz de sustentar a vegetação, levando ao colapso dos ecossistemas locais. A desertificação não afeta apenas o meio ambiente, mas também as comunidades humanas que dependem dessas terras para a agricultura e a pecuária, exacerbando a pobreza e a insegurança alimentar.

A perda de fertilidade do solo é outro impacto grave. A mineração remove minerais valiosos do solo, acabando por eliminar elementos essenciais para o crescimento das plantas, como nitrogênio, fósforo e potássio. Além disso, a contaminação química altera o pH do solo, tornando-o inadequado para a maioria das culturas agrícolas. A recuperação de solos degradados pela mineração é um processo longo e caro, e muitas vezes os esforços de reabilitação não conseguem restaurar completamente a produtividade original do solo.

Essa recuperação de solos degradados pela mineração é um desafio complexo que exige soluções inovadoras e eficazes. Como possibilidade de solução, a tecnologia tem avançado significativamente, oferecendo novos meios para mitigar os impactos da mineração no solo. É a biotecnologia a serviço da prevenção e da recuperação dos ambientes degradados. Entre as técnicas mais promissoras estão a fitorremediação e a biorremediação.

A fitorremediação utiliza plantas para absorver e acumular metais pesados e outros contaminantes, enquanto a biorremediação emprega microrganismos para decompor substâncias tóxicas em compostos menos nocivos​. Essas técnicas não apenas ajudam a limpar o solo, mas também contribuem para a recuperação da biodiversidade e a restauração do ecossistema.

A fitorremediação oferece várias vantagens, incluindo baixo custo, simplicidade de implementação e a possibilidade de recuperar grandes áreas de maneira relativamente rápida. No entanto, essa técnica também tem limitações, como o tempo necessário para que as plantas cresçam e absorvam os contaminantes, e a necessidade de monitoramento contínuo para garantir que os contaminantes não se espalhem para outras áreas.

De outro lado, a biorremediação apresenta melhores vantagens, sendo uma delas a sua capacidade de atuar in situ, ou seja, diretamente no local contaminado, sem a necessidade de remover o solo para tratamento em outra área. Isso reduz os custos e minimiza a perturbação ambiental. Além disso, a biorremediação pode ser combinada com outras técnicas para melhorar a eficiência da recuperação do solo.

Essas técnicas de biotecnologia, combinadas com a inteligência artificial (IA), tem permitido a personalização de sua aplicação, ajustando-as para diferentes tipos de contaminação e condições ambientais​. Sensores inteligentes e sistemas de monitoramento baseados em IA podem fornecer dados em tempo real sobre a saúde do solo, permitindo intervenções rápidas e precisas. Essas tecnologias ajudam a garantir que os processos de recuperação sejam mais eficazes e menos invasivos, promovendo a sustentabilidade a longo prazo​.

As tecnologias modernas para o controle e recuperação do solo desempenham um papel essencial, moderno e promissor na construção da sustentabilidade a longo prazo. Elas permitem que as mineradoras minimizem ou eliminem os danos causados pelas suas operações e criem condições para a regeneração natural dos ecossistemas. A aplicação de técnicas como a fitorremediação e a biorremediação, combinadas com o poder analítico da inteligência artificial, assegura que o solo recuperado possa novamente suportar a vida vegetal e animal, restaurando a biodiversidade e contribuindo para a saúde ambiental e humana​.

Além disso, o uso dessas tecnologias demonstra o compromisso das mineradoras com os critérios de ESG (Environmental, Social, and Governance) e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), promovendo práticas de mineração que são não apenas eficientes, mas também se apresentam como responsáveis e éticas. A adoção dessas práticas contribui para a reputação das empresas e para o fortalecimento de suas relações com as comunidades locais e outras partes interessadas.

A responsabilidade socioambiental das mineradoras é um aspecto importantíssimo a ser constantemente avaliado; porém, é multifacetado, abrangendo a necessidade de minimizar os impactos negativos das operações de mineração, proteger o meio ambiente, e promover o bem-estar das comunidades locais. Esse compromisso vai além do simples cumprimento das regulamentações ambientais; ele envolve uma ética corporativa que coloca a sustentabilidade e a justiça social no centro das atividades empresariais.

Um dos pilares da responsabilidade socioambiental é a implementação de práticas de mineração limpa, que minimizam os impactos negativos sobre o meio ambiente. A transparência na comunicação dos impactos ambientais é outro componente vital da responsabilidade socioambiental. Os empreendimentos devem fazer constar de seus planos e divulgar de maneira clara e precisa os efeitos de suas operações sobre o meio ambiente e as medidas que estão sendo tomadas para mitigar esses impactos. A adoção de práticas de transparência constrói confiança com as partes interessadas e aumenta a credibilidade da empresa perante a sociedade, reguladores e investidores.

As mineradoras têm a responsabilidade de investir no desenvolvimento social e econômico das comunidades onde operam. Uma responsabilidade qualificada. Isso pode incluir a construção de infraestrutura, como escolas e hospitais, a criação de programas de capacitação profissional, e o apoio a iniciativas de conservação ambiental.

O desenvolvimento de programas de reassentamento justo, em casos em que o deslocamento de comunidades é necessário, é igualmente fundamental para garantir que os direitos humanos sejam respeitados e que as pessoas afetadas possam reconstruir suas vidas com dignidade.

Os impactos da mineração no solo são complexos e geram incontáveis resultados, afetando não apenas a saúde ambiental, mas também a saúde humana e a viabilidade econômica das áreas afetadas. Para mitigar esses impactos, é essencial que as mineradoras adotem práticas responsáveis e utilizem tecnologias avançadas de monitoramento e recuperação do solo. A tecnologia pode estar a seu serviço e a implementação de critérios rigorosos de ESG e a colaboração com as comunidades locais são passos fundamentais para garantir que a mineração possa continuar a contribuir para o desenvolvimento econômico sem comprometer o meio ambiente e o bem-estar das futuras gerações.

MM Advocacia Minerária

Mariana Santos e Márcia Itaborahy
Mariana Santos e Márcia Itaborahy

 

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