NÃO PROVOQUE: É COR DE ROSA CHOQUE (Rita Lee). NO DIA INTERNACIONAL DA MULHER, QUEM É ELA?

Publicado em

A trajetória feminina no mercado de trabalho é marcada por um entrelaçamento de fatores históricos, culturais, econômicos e políticos que moldam tanto as oportunidades de acesso quanto a sua permanência em diferentes profissões.

Essa presença reflete uma longa trajetória de lutas por igualdade, enfrentamentos, sobrecargas, disputas injustas e polêmicas.

Na esfera jurídica, a busca por proteção de direitos e a consolidação de leis que visam garantir a equidade de gênero surgem em paralelo às transformações sociais iniciadas em períodos remotos, quando movimentos feministas e reivindicações pela extensão do sufrágio colocaram em pauta a importância da participação das mulheres na vida pública.

Todavia, esses avanços legais não são capazes de eliminar, por si só, as desigualdades estruturais que persistem, sejam elas salariais ou no acesso à educação de qualidade ou ao mercado de trabalho, elementos essenciais para a progressão profissional.

O esforço em estabelecer normas que protejam e promovam a equidade de gênero encontra respaldo em compromissos internacionais, como o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 5 (ODS-5), que visa alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. Contudo, a aplicação efetiva dessas normas depende de políticas públicas que tornem viável a conciliação entre trabalho e família, oferecendo condições de trabalho dignas, licenças parentais equilibradas e acesso a creches, o que reforça a necessidade de monitoramento contínuo para que avanços legais se convertam em práticas consolidadas e efetivas.

A disparidade econômica entre homens e mulheres permanece como desafio em diversos países, incluindo o Brasil, e é ainda maior quando se analisam camadas sociais distintas entre as próprias mulheres, expondo a necessidade de políticas voltadas para grupos vulneráveis, muitas vezes invisibilizados pelas estatísticas oficiais.

A perspectiva sociológica evidencia a influência das tradições culturais, que, em variados contextos, ainda veem a mulher vinculada a papéis de cuidado e tarefas domésticas. Ela se vê diante do eterno dilema de como administrar sua vida pessoal – mãe, esposa, mãe solo, chefe de família – e sua vida profissional – carreira, oportunidades.

Embora o discurso de igualdade tenha ganhado espaço, ainda existem estigmas culturais que associam a mulher a ocupações tidas como menos valorizadas, ao mesmo tempo em que sua entrada em setores tradicionalmente masculinos, como a mineração, enfrenta barreiras simbólicas e institucionais. Essa realidade demanda a promoção de políticas que incentivem a participação feminina em todas as etapas de formação e progressão profissional, ampliando oportunidades e garantindo representatividade em cargos de decisão. As mulheres que adentram setores de alta competitividade precisam lidar com a necessidade de prova constante de sua competência além de ver-se obrigada à conciliação de atribuições domésticas e afetivas, evidenciando a distância entre a igualdade formal e a efetiva.

As religiões, em suas diferentes interpretações, podem reforçar visões conservadoras sobre o lugar feminino, legitimando estruturas de poder desiguais ou, em alguns casos, se tornando plataformas de debate e emancipação.

Esse cenário, ao lado de uma política partidária que muitas vezes retarda a adoção de leis inclusivas, revela que a consolidação de direitos requer mais que simples mudanças normativas: exige uma transformação de mentalidades e costumes arraigados ao longo da história.

A análise psicológica da posição feminina na sociedade mostra como a sobrecarga de papéis – profissional, esposa, mãe – pode gerar impactos na saúde mental das mulheres, exigindo um equilíbrio nem sempre alcançado devido à falta de um suporte social que compartilhe e redistribua as responsabilidades domésticas e familiares.

Essa perspectiva psicológica ressalta o impacto dessa sobrecarga na saúde física e mental das trabalhadoras, que muitas vezes vivenciam sentimentos de culpa e estresse pela tentativa de equilibrar exigências profissionais com demandas familiares. A ausência de um sistema de suporte adequado, seja por meio de políticas institucionais ou pela partilha das tarefas domésticas, pode levar ao esgotamento e a quadros de ansiedade. A compreensão do papel social feminino exige a revisão de modelos culturais que, ao longo da história, privilegiaram a visão da mulher como principal responsável pela organização da vida familiar.

Essa discussão encontra eco na antropologia, pois o modo como cada sociedade constrói expectativas em torno do feminino influencia diretamente a maneira pela qual as mulheres são vistas e tratadas no ambiente de trabalho. É importante compreender como diferentes sociedades, ao longo do tempo, construíram visões específicas sobre a participação feminina na produção de bens e serviços, incorporando fatores culturais que influenciam as trajetórias de trabalho das mulheres.

Torna-se essencial entender como as sociedades constroem, ao longo do tempo, símbolos e práticas que definem o que se espera de cada gênero. Os processos de industrialização, as heranças coloniais, a expansão do capitalismo e as evoluções tecnológicas alteraram as formas de trabalho, mas não eliminaram a discriminação e os preconceitos que incidem sobre as mulheres em geral, e de maneira ainda mais intensa sobre aquelas em situação de maior vulnerabilidade socioeconômica.

O entendimento da necessidade de fortalecer a autoestima e a motivação que impulsionam mulheres a desafiar preconceitos e estigmas se confronta com a evidência da importância de um ambiente de trabalho que estimule o bem-estar mental e a saúde emocional.

As conquistas de todas as gerações até hoje vão desde o acesso à educação e a possibilidade de formação especializada até a ampliação do debate sobre direitos reprodutivos e políticas de igualdade salarial. E as necessidades de consolidação desses direitos serão pauta ainda nas próximas gerações.

É que o processo de inclusão não se limita ao ingresso, mas também abrange a promoção de condições equitativas que visem eliminar práticas discriminatórias e reduzir as desigualdades ainda observadas em contratações, remunerações e ascensão profissional.

A pressão por comprovação de competência em ambientes de trabalho tradicionalmente masculinos, como o setor de mineração, agrava o estresse enfrentado por muitas mulheres, que, além de vencer barreiras culturais, precisam lidar com a sensação de constante vigilância sobre suas capacidades.

O setor de mineração revela a importância do avanço das mulheres em segmentos da economia considerados de difícil acesso. Essa atividade, historicamente associada à força física e às dinâmicas masculinas, tem se aberto à presença feminina, incentivada por um mercado em constante modernização e por legislações que impõem padrões mais elevados de segurança, bem-estar e diversidade nas equipes.

O setor assume o papel de responsabilizar-se pela superação dos estereótipos. Como atividade essencial à economia e à sociedade, deve posicionar-se como promotor de constante aprimoramento profissional para que se atinjam impactos positivos nas relações de trabalho e na produtividade do setor, sem se esquecer da pessoa, do humano, da condição específica do feminino nos seus quadros.

As políticas públicas desempenham papel de destaque para promover condições mais equitativas, como a implementação de programas de apoio à maternidade, incentivos à contratação de mulheres em áreas tecnológicas e de maior remuneração, e o fomento de ambientes que promovam diversidade e inclusão. Essas iniciativas para além do benefício específico às mulheres, são capazes de impulsionar o desenvolvimento econômico e social, ao valorizar capacidades e perspectivas diversas. Ao mesmo tempo, a resistência a transformações mais profundas demonstra que as conquistas alcançadas até hoje, embora significativas, ainda não equacionam todas as demandas históricas de justiça e igualdade.

Políticas públicas que incentivam a igualdade salarial, o acesso a creches, a licenças parentais equilibradas e a assistência para quem enfrenta diferentes formas de exclusão tornam-se ferramentas indispensáveis para reduzir a distância entre a igualdade prevista em lei e a realidade cotidiana.

Além disso, a promoção do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 5 (ODS-5), no âmbito internacional, envolve o compromisso de governos, empresas e organizações sociais com a equidade de gênero, agregando pressões e incentivos para que mudanças estruturais se efetivem.

A dinâmica política exerce considerável impacto nesse processo, pois partidos e lideranças podem tanto criar iniciativas para proteger e promover os direitos das mulheres quanto dificultar avanços, dependendo das alianças e ideologias em jogo.

A história demonstra que conquistas de grande relevância, como o direito ao voto, a permissão para estudar em universidades e a regulamentação de condições mínimas de trabalho, resultam de articulações complexas, por vezes atravessadas por conflitos ideológicos e resistências conservadoras. Ainda que já se perceba um número crescente de mulheres ocupando cargos de chefia e posições estratégicas, persistem disparidades nas remunerações e no reconhecimento profissional, revelando que a superação dessas barreiras exige vigilância e aperfeiçoamento constantes das normas e das práticas institucionais.

A relevância jurídica dessas mudanças não se restringe a leis específicas, mas dialoga com princípios constitucionais que reforçam a dignidade da pessoa humana e a igualdade material, estimulando políticas de inclusão e remuneração justa. Tem-se observado que a maior participação feminina em setores antes exclusivos aos homens provoca uma ressignificação de valores e de práticas cotidianas, ampliando o horizonte de possibilidades para as futuras gerações de trabalhadoras. A presença em ambientes de alta competitividade requer estratégias que promovam apoio emocional e valorizem a construção de redes de suporte, considerando fatores como duplas jornadas e pressões internas e externas. A inserção das mulheres na mineração, como exemplo de ambiente tradicionalmente masculino, expõe a capacidade de adaptação cultural e institucional, ao mesmo tempo em que ressalta aspectos simbólicos ligados ao cuidado, à responsabilidade coletiva e ao senso de comunidade.

O caminhar das mulheres pelo mercado de trabalho, com destaque para sua crescente participação em áreas como a mineração, representa uma trajetória de conquistas que repousam na convergência de múltiplas frentes de luta. Os esforços de diferentes gerações e a consolidação de direitos continuam inspirando reformas e políticas que visam assegurar um futuro mais inclusivo, em que as mulheres sejam reconhecidas por suas competências e possam alcançar realização profissional plena, contribuindo para o desenvolvimento social, econômico e cultural de maneira cada vez mais abrangente.

O debate sobre as mulheres no mercado de trabalho, especialmente em áreas que envolvem grandes desafios técnicos e culturais, pode se tornar um catalisador de mudanças amplas, na medida em que revela tensões ainda presentes na sociedade. Ao ocupar espaços antes restritos ao masculino, as mulheres demonstram sua capacidade para desempenhar funções diversas, mas expõem a fragilidade de certos estereótipos e preconceitos que historicamente justificaram a exclusão.

Essa presença feminina cada vez mais ativa no mercado, rompendo barreiras visíveis e invisíveis, desperta debates sobre a necessidade de igualdade de oportunidades, de segurança e de respeito no ambiente profissional, ao mesmo tempo em que amplia a responsabilidade dos agentes políticos, econômicos e sociais em promover contextos mais justos.

O fortalecimento de redes de apoio, a adoção de políticas públicas inclusivas e o compromisso renovado com a educação e a formação continuada contribuem para que essas conquistas sejam duradouras.

Não se trata apenas de inserir a mulher no mercado, mas de reconhecer suas múltiplas dimensões e papéis, assegurando a ela condições de desenvolvimento integral e a possibilidade de influenciar os rumos da economia, da política, da cultura e da própria história humana.

A mulher segue ocupando um lugar de constante luta, reafirmando seus direitos e denunciando práticas discriminatórias, tanto em relação a questões salariais quanto às barreiras invisíveis que dificultam sua ascensão. O envolvimento contínuo de gerações passadas e futuras e a aplicação rigorosa de leis protetivas são elementos que fortalecem o caminho rumo a uma sociedade mais inclusiva. Mesmo com as dificuldades impostas pela sobrecarga de atividades e pelas pressões sociais, a busca por equilíbrio e a reivindicação de novos direitos constituem pilares fundamentais para a transformação social e para a consolidação dos objetivos de igualdade de gênero.

Mariana Santos e Márcia Itaborahy
Mariana Santos e Márcia Itaborahy

MM Advocacia Minerária

Matérias Relacionadas

‘Biossólido Itabira’ irá transformar lodo da Estação de Tratamento de Esgoto Laboreaux em um insumo agrícola

O “Biossólido Itabira”, uma colaboração entre o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de...

‘Festival Fartura Dona Lucinha’ agita cidades de Serro e Conceição do Mato Dentro

Entre os dias 20 e 28 de maio, o "Festival Fartura Dona Lucinha" chega...

‘Festival Os Sons do Brasil’ chega em Ouro Preto e Mariana entre 20 a 22 de junho

Entre os dias 20 a 22 de junho, Ouro Preto e Mariana serão palcos...

‘Sextou’ com vagas! Sine Itabira fecha a semana com 95 novas oportunidades de emprego

Confira as vagas de emprego abertas no Sine Itabira para quem busca uma recolocação no mercado de trabalho nesta sexta-feira (23)

últimas Matérias

 Anglo Gold Ashanti tem vagas de estágio para níveis técnico e superior

Vagas se destinam tanto a atuações presenciais quanto híbridas, com carga horária diária de 6 horas; Inscrições podem ser feitas pela internet até 31 de agosto

 Ato em defesa da ANM – servidores protestam pela estruturação da Agência Nacional de Mineração

Servidores da Agência Nacional de Mineração estão com as atividades paralisadas como forma de...

 Cidade das gemas: moradores de Teófilo Otoni vivem terror com guerra entre facções criminosas

Bandidos trocaram tiros com a Polícia na noite desta quinta-feira; PCC e Comando Vermelho vêm amedrontando moradores da cidade nas últimas semanas

 Funcionários dos Correios desistem de greve na véspera da Black Friday

Servidores cogitavam paralisação para reivindicar correções em Acordo Coletivo e melhores condições de trabalho, mas desistiram da ideia após terem pedidos considerados pelos Correios