ODS6: a mineração e a água de todos nós

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A mineração, uma das indústrias mais significativas para a economia global, produz um impacto profundo e duradouro sobre os recursos hídricos. A atividade minerária consome vastas quantidades de água, seja para o processamento de minerais, seja para o controle de poeiras ou para outras operações.

Nesse contexto, a atenção da mineração ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 6, que visa assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos, torna-se fundamental.

O ODS 6, estabelecido pelas Nações Unidas, é claro em seu propósito: garantir que todas as pessoas tenham acesso à água potável, ao saneamento e à higiene, ao mesmo tempo que preserva os recursos hídricos para as futuras gerações. Esse objetivo engloba metas específicas, como melhorar a qualidade da água, reduzir a poluição, aumentar o uso eficiente dos recursos hídricos e proteger ecossistemas aquáticos.

Para o setor de mineração, que historicamente tem sido visto como uma ameaça à qualidade da água e à disponibilidade desse recurso, o desafio é alinhar suas operações com as metas do ODS 6, promovendo um uso responsável e sustentável da água.

A relação entre mineração e água é intrinsecamente complexa, pois a extração e o processamento de minerais demandam grandes volumes de água, ao mesmo tempo em que podem comprometer a qualidade e a disponibilidade desse recurso para ecossistemas e comunidades locais. Desde a extração de minérios até o seu beneficiamento, a água desempenha um papel essencial. No entanto, o uso intensivo desse recurso pode levar à sua escassez em regiões onde a mineração é uma atividade predominante, além de impactar diretamente a qualidade dos corpos hídricos adjacentes.

O uso irresponsável de água pela mineração pode resultar em contaminação por metais pesados, alteração dos cursos de rios, redução da disponibilidade de água potável para as comunidades locais e danos irreversíveis aos ecossistemas aquáticos. Esses problemas são exacerbados quando as mineradoras não adotam práticas sustentáveis ou deixam de monitorar seus impactos de forma contínua.

A água é um recurso vital para a vida e o desenvolvimento humano. Reconhecida como direito humano fundamental pela Organização das Nações Unidas (ONU), sua disponibilidade e qualidade são essenciais para a saúde pública, agricultura, indústria e manutenção dos ecossistemas. No contexto da mineração, a gestão sustentável da água torna-se ainda mais premente, dado o potencial de poluição e degradação ambiental associado às operações minerárias.

A contaminação de corpos hídricos por resíduos de mineração é uma preocupação ambiental significativa. Substâncias tóxicas, como metais pesados e produtos químicos utilizados no processamento de minérios, podem infiltrar-se no solo e alcançar lençóis freáticos, comprometendo a qualidade da água. Além disso, o despejo inadequado de rejeitos em rios e lagos pode levar à eutrofização, redução da biodiversidade aquática e impactos negativos na saúde das comunidades que dependem dessas fontes hídricas.

A escassez de água é outro desafio enfrentado em regiões mineradoras. A extração intensiva de água para processos industriais pode reduzir a disponibilidade para outros usos, como consumo humano e agricultura. Em áreas já vulneráveis a secas, a demanda adicional imposta pela mineração pode exacerbar conflitos pelo uso da água e comprometer a segurança hídrica das populações locais.

A gestão inadequada de barragens de rejeitos representa um risco significativo para os recursos hídricos. O rompimento dessas estruturas pode liberar grandes volumes de resíduos tóxicos nos cursos d’água, causando desastres ambientais de larga escala. Eventos como os ocorridos em Mariana e Brumadinho, no Brasil, evidenciam as consequências devastadoras de falhas na gestão de barragens, resultando em perda de vidas, destruição de ecossistemas e contaminação de rios por centenas de quilômetros.

Mineração responsável

A Agenda 2030 da ONU, por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelece metas claras para a preservação dos recursos hídricos. O ODS 6 visa “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos” até 2030. Nesse contexto, a indústria mineradora tem um papel de grande relevância a desempenhar, adotando práticas que minimizem os impactos negativos sobre a água e contribuam para a conservação desse recurso.

A adoção de tecnologias avançadas pode mitigar os impactos da mineração sobre os recursos hídricos. Sistemas de recirculação de água permitem reduzir o consumo e minimizar o despejo de efluentes. O tratamento adequado de resíduos e a implementação de técnicas de mineração a seco são estratégias que podem diminuir a dependência de água nos processos industriais. Além disso, o monitoramento contínuo da qualidade da água, utilizando sensores e análises laboratoriais, é essencial para detectar e corrigir prontamente quaisquer contaminações.

A restauração de áreas degradadas pela mineração é fundamental para a recuperação dos recursos hídricos. A revegetação de áreas mineradas ajuda a prevenir a erosão do solo e a sedimentação de corpos d’água. A recuperação de nascentes e a proteção de zonas ripárias são medidas que contribuem para a manutenção da qualidade e quantidade de água disponível. Programas de reabilitação ambiental, aliados à participação das comunidades locais, podem promover a sustentabilidade hídrica a longo prazo.

A transparência e o engajamento comunitário são pilares para a gestão sustentável da água na mineração. As empresas devem comunicar de forma clara e acessível os impactos de suas operações sobre os recursos hídricos e as medidas adotadas para mitigá-los. A participação das comunidades na tomada de decisões relacionadas à gestão da água assegura que as necessidades e preocupações locais sejam consideradas, promovendo a confiança e a cooperação entre as partes interessadas.

A implementação de políticas públicas eficazes é essencial para regular o uso da água na mineração. Governos devem estabelecer normas ambientais rigorosas, fiscalizar o cumprimento das mesmas e aplicar sanções em casos de infração. Incentivos para práticas sustentáveis, como certificações ambientais e benefícios fiscais, podem estimular as empresas a adotarem medidas de conservação da água. A cooperação internacional também é relevante, compartilhando conhecimentos e tecnologias que promovam a sustentabilidade hídrica no setor minerador.

A educação e a conscientização sobre a importância da água e os impactos da mineração são fundamentais para promover mudanças de comportamento. Programas de capacitação para trabalhadores da mineração podem disseminar práticas sustentáveis e técnicas de gestão eficiente da água. Campanhas de sensibilização junto às comunidades e ao público em geral fortalecem a compreensão sobre a necessidade de preservar os recursos hídricos e incentivam a participação ativa na proteção ambiental.

Sustentabilidade

A integração de práticas sustentáveis na mineração não é apenas uma responsabilidade ambiental: a importância da adoção dessas práticas reveste-se em uma verdadeira oportunidade econômica. Empresas que adotam medidas de conservação da água podem reduzir custos operacionais, evitar multas e melhorar sua reputação no mercado. Investidores e consumidores estão cada vez mais atentos às práticas ambientais das empresas, valorizando aquelas que demonstram compromisso com a sustentabilidade. Assim, a gestão responsável dos recursos hídricos pode resultar em vantagens competitivas e contribuir para a longevidade dos negócios no setor minerador.

A água é mais do que um recurso; é um direito e um símbolo da dignidade humana. Para que as mineradoras continuem a operar com legitimidade, é necessário que compreendam sua função social e ajam de forma a proteger esse recurso tão precioso. A sustentabilidade da indústria depende sempre de sua capacidade de gerar lucro, mas é preciso que assuma um compromisso irrenunciável com a preservação dos recursos naturais e com o bem-estar das comunidades. Ao adotarem uma gestão qualificada e responsável, as mineradoras não só contribuem para o alcance do ODS 6, mas também garantem um futuro em que a água seja um direito verdadeiramente universal.

A relação entre mineração e recursos hídricos exige uma abordagem equilibrada, integrativa, responsável e efetiva que considere tanto as necessidades econômicas quanto a preservação ambiental. A adoção de práticas sustentáveis, o cumprimento de regulamentações ambientais, o uso de tecnologias inovadoras e o engajamento das comunidades são elementos-chave para assegurar que a mineração contribua para o desenvolvimento sem comprometer a disponibilidade e a qualidade da água. Ao alinhar suas operações com os princípios do ODS 6, as mineradoras têm a oportunidade de liderar um movimento global pela sustentabilidade. É possível combinar a busca pelo desenvolvimento econômico com a preservação de recursos essenciais, garantindo que futuras gerações herdem um planeta onde a água seja um bem acessível a todos.

Para que a mineração se alinhe ao ODS 6 e contribua para um futuro sustentável, é necessário um compromisso real e contínuo com a gestão responsável da água. O cumprimento do ODS 6 não é apenas uma meta, mas um dever ético e jurídico para que o setor de mineração, em consonância com os direitos fundamentais, preserve a vida e a dignidade humana. A responsabilidade qualificada das mineradoras exige que elas se coloquem além das obrigações regulatórias, comprometendo-se com práticas sustentáveis que respeitem as comunidades e o meio ambiente. Isso significa adotar estratégias que gerem benefícios duradouros para a sociedade, atuando para muito mais que apenas minimizar os impactos negativos.

Ao entender a água como um direito fundamental e essencial, as mineradoras protegem o recurso mais importante do planeta e também reforçam a sua responsabilidade qualificada com as gerações futuras.

Mariana Santos e Márcia Itaborahy
Mariana Santos e Márcia Itaborahy

MM Advocacia Minerária

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