Terra do Ferro, do Leite e do mel: Canaã dos Carajás, a última das fiandeiras

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Nesta semana abrimos espaço para novos colaboradores da coluna contarem histórias relacionadas à exploração mineral no estado do Pará. No último artigo da série, você vai saber como a chegada da mineração transformou a realidade de Canaã dos Carajás. A cidade passou a conviver com novas oportunidades, novos problemas e também com a necessidade de pensar em um futuro sustentável sem a exploração mineral. 

*Por Adriana Lima e Marcos de Albano

 

Os pioneiros jamais devem ser esquecidos

 Todos os julgares são quase sempre desnecessários, pois são frutos da moral de cada pessoa e de cada lugar. Comumente, os mais jovens julgam ou consideram obsoleto aquilo ou aquele que é antigo, apenas pela idade e porque a modernidade flui em águas tão rápidas que forma inúmeros braços de rios com vigorosas jornadas para o mar. Sabemos que os mais velhos sofrem com o desprezo dos mais jovens, os quais se esquecem que caminham sobre os trilhos que os mais velhos construíram. É por isso que temos muitas águas vivas, mas também muitas águas mortas carregadas de traços preconceituosos, os quais desprezam as ideias e as pessoas que fundaram um lugar e o desenvolveram. Esses julgamentos são cheios de anacronismos e sugerem questionamentos à reputação dos antigos.

Nietzsche em Além do Bem e do Mal escreveu: “Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez a si próprio?”

 Ora, os pioneiros de Canaã fizeram o que tinham que fazer para domar um sertão, uma fronteira longínqua e desafiadora, e agora a cidade está aí para o usufruto de seus moradores que não precisam quebrar pedras, mas apenas colher os frutos da mineração e do comércio como meios de vida. Portanto, sem julgamentos, esses pioneiros tiveram que assentar, abrir caminhos, fazer luta, fazer política, tudo ao mesmo tempo. Pessoas vindas de regiões diversas do país, em especial do Nordeste, fugindo da falta de oportunidades, do desemprego, da fome, da má colheita da vida e do coronelismo esmaecido, mas não desaparecido.

A Vale SA, como protagonista das operações de mineração na região, desempenhou um papel crucial na transformação de Canaã dos Carajás. A mobilização da empresa para os projetos Sossego e S11-D, iniciada por volta de 2000, trouxe uma significativa migração de trabalhadores de diversas regiões do Pará e de outras partes do Brasil. Este influxo acelerado de pessoas contribuiu para uma explosão populacional sem precedentes na cidade, refletindo o impacto das atividades mineradoras sobre a dinâmica demográfica local.

A explosão populacional em Canaã dos Carajás foi notável, com a população crescendo de 10.922 habitantes em 2000 para 33.632 habitantes em 2015, uma taxa de crescimento superior a 208% em apenas 15 anos. Este crescimento exponencial destaca a influência substancial dos projetos de mineração sobre o desenvolvimento urbano e a expansão demográfica. Estimativas de crescimento futuro indicam que a cidade continuará a se transformar, refletindo a contínua importância da mineração como motor econômico e social na região.

A exemplo do que nos explicou, em entrevista, o senhor André Mattos, Engenheiro Civil, um dos responsáveis pela implementação do Projeto S11-D em Canaã dos Carajás, natural de Sete Lagoas/MG, contou-nos em agosto de 2024 que veio para a região de Carajás em 2014 para a fase de implementação do Projeto S11-D, principal projeto minerador que alavancou Canaã dos Carajás. Permaneceu até meados de 2017, retornando recentemente à região de Carajás, notando as substanciais diferenças e mudanças, em sua visão, para melhor, da região, especialmente no que tange o setor de serviços, de mineração e estrutura urbana.

“O s11-d impulsionou muitas áreas internas e fora da Mineradora. Em minha área a demanda aumentou exponencialmente em função de todos os processos, tanto de contratação como de compras de materiais ou de serviços, a fim de atender as diversas áreas da mineradora. O impacto, eu entendo, como positivo, pois proporcionou o desenvolvimento tanto para fornecedores locais como de outras regiões. Com a grande demanda, houve a necessidade de criar cursos de formação e aperfeiçoamento de empreendedores locais em todos os ramos e atividades0”.

O projeto S11-D modificou Canaã de maneira substancial, o senhor André Mattos contou-nos mais: “O grande diferencial da maior mineradora do local é o quanto ela é comprometida e engajada na conservação, proteção e ampliação das reservas legais, dispondo grandes investimentos na recuperação e manutenção dos projetos ambientais e estruturais já existentes”.

Ainda dispondo suas observâncias técnicas sobre a região, com a visão de quem esteve diretamente ligado à implantação deste grande projeto minerador, o senhor André Mattos é nutrido de grande experiência sobre as mudanças sociais na região e encerrou dizendo-nos que: “Trata-se de uma região muito próspera, com muita riqueza natural e isso alavanca a economia local, contribuindo para grandes fluxos migratórios. Há uma tendência enorme de crescimento local em todos os setores, contudo para que se tenha um crescimento ordenado e o futuro da região seja ainda mais próspero, há necessidade urgente de serviços básicos como saneamento, saúde e investimentos na infraestrutura urbana. O crescimento é enorme, mas ainda está desordenado, há necessidade ainda de um plano diretor Municipal para planejar, organizar e fiscalizar esse crescimento, porque sem saneamento não há saúde e tampouco qualidade de vida.”

Atualmente, a população da cidade de Canaã dos Carajás (PA) chegou a 77.079 pessoas no Censo de 2022, o que representa um aumento de 188,51% em comparação com o Censo de 2010. Os resultados foram divulgados nesta quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados do Censo também revelam que a população do Brasil é de 203.062.512, um aumento de 6,45% em relação ao Censo de 2010. No estado do Pará, a população é de 8.116.132, o que representa um aumento de 7,06% quando comparado ao Censo anterior.

No ranking de população dos municípios, Canaã dos Carajás está:

  • na 19ª colocação no estado;
  • na 36ª colocação na região Norte;
  • e na 416ª colocação no Brasil.

A pesquisa do IBGE também aponta que a cidade de Canaã dos Carajás tem uma densidade demográfica de 24,49 habitantes por km² e uma média de 3,15 moradores por residência. Em suma, o desenvolvimento urbano e demográfico de Canaã dos Carajás ilustra a complexa interseção entre políticas públicas e expansão econômica, especialmente em áreas afetadas por grandes projetos de mineração. As mudanças implementadas pelo poder público, a dinâmica do mercado de trabalho e a mobilização das grandes corporações têm moldado profundamente o panorama urbano da cidade, refletindo tanto as oportunidades quanto os desafios associados ao crescimento acelerado e à urbanização em contextos de mineração.

Do ponto de vista político, Canaã dos Carajás experimentou transformações significativas com o intuito de fomentar o desenvolvimento e aumentar as receitas municipais. Em particular, a administração local, sob a liderança do prefeito Anuar Alves da Silva, tomou uma decisão estratégica no dia 23 de maio de 2002, de transformar áreas rurais em zonas urbanas. Esta mudança visava a maximização da arrecadação municipal por meio da implementação do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) sobre os imóveis agora classificados como urbanos. Tal medida visou capitalizar sobre o crescente número de trabalhadores da mineração residentes na cidade, um reflexo direto da expansão da indústria mineral na região.

Simultaneamente, a cidade de Parauapebas, situada na Serra dos Carajás, também passou por transformações econômicas e sociais paralelas, com o início da exploração de ferro, manganês e ouro. A instalação da mina de Cobre do Sossego em 2000, seguida pelo início das operações em 2003, exemplifica o impacto que grandes projetos de mineração podem ter sobre o crescimento urbano e a mobilidade econômica das cidades. A criação e operação dessa mina geraram uma demanda significativa por trabalhadores e infraestrutura, contribuindo para uma pressão demográfica similar à observada em Canaã dos Carajás.

No contexto dessa expansão econômica, a configuração urbana de Canaã dos Carajás evoluiu de maneira marcante. A Avenida Weyne Cavalcante, que se origina da rodovia PA-160, tornou-se a espinha dorsal da cidade, o ponto nevrálgico da cidade – o cruzamento das Avenidas Weyne Cavalcante e Pioneiros representa o núcleo inicial de ocupação e desenvolvimento urbano. No entanto, apesar do crescimento, a cidade enfrenta desafios relacionados à fragmentação do tecido urbano, refletida em uma rede viária que ainda apresenta baixos níveis de integração e coesão. Contudo, a atual gestão de Josemira Gadelha tem dado novos ares à cidade, ares de modernidade, geração de empregos e qualidade de vida apostando no turismo. Esperemos mais frutos.

A Ascensão Econômica de Canaã dos Carajás: Impactos da Mineração e Transformações Regionais

A cidade de Canaã dos Carajás é situada no estado do Pará, Brasil, e emerge como um exemplo paradigmático das transformações socioeconômicas impulsionadas por grandes projetos na Amazônia Legal. A gênese de Canaã está profundamente vinculada aos planos de desenvolvimento da ditadura civil e militar brasileira, que visavam a ocupação e exploração da região amazônica. Criada em 1982 pelo Grupo Executivo das Terras do Araguaia e Tocantins (GETAT), do Governo Federal, a cidade nasceu como um assentamento agrícola, com o propósito de estimular a colonização e a atividade produtiva na região.

A metamorfose de Canaã dos Carajás não se restringe apenas às esferas econômica e social, mas também reflete transformações culturais e demográficas significativas. Com o crescimento exponencial impulsionado pela mineração, a cidade passou a atrair uma população diversificada, composta não só por migrantes de outras regiões do Brasil em busca de oportunidades econômicas, mas também por trabalhadores e profissionais de diferentes partes do mundo. Esse fluxo migratório contribuiu para a formação de um ambiente culturalmente heterogêneo e dinâmico, onde diferentes influências e práticas se entrelaçam, enriquecendo o tecido social da cidade.

O crescimento exponencial da arrecadação pode ser atribuído aos royalties obtidos com a mineração, que têm contribuído substancialmente para o desenvolvimento econômico da cidade. A transformação econômica de Canaã dos Carajás é notável não apenas pelo aumento das receitas, mas também pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que, segundo estimativas do IBGE em 2020, foi o mais alto do país, alcançando R$591.101,11. Este impressionante crescimento econômico, no entanto, deve ser compreendido dentro do contexto de desenvolvimento regional e dos desafios associados. A exploração intensiva dos recursos minerais tem implicações significativas para o meio ambiente e para as comunidades locais.

O impacto ambiental da mineração é uma preocupação constante, dada a sensibilidade ecológica da Amazônia e a necessidade de equilibrar desenvolvimento econômico com conservação ambiental. Além disso, a rápida expansão econômica de Canaã dos Carajás suscita questões relacionadas ao planejamento urbano e à infraestrutura, que precisam ser adequadas para suportar o crescimento populacional e econômico. A cidade enfrenta o desafio de criar uma infraestrutura que suporte a expansão sem comprometer a qualidade de vida dos seus habitantes. Portanto, a história de Canaã dos Carajás é um testemunho das complexas interações entre desenvolvimento econômico e gestão ambiental. A cidade, que começou como um modesto assentamento agrícola, transformou-se em um polo de riqueza mineral, refletindo tanto o potencial quanto os desafios do crescimento impulsionado pela mineração.

Concomitantemente, a ascensão econômica de Canaã dos Carajás proporciona um campo fértil para estudos sobre a interação entre desenvolvimento urbano e responsabilidade social corporativa. A presença da Vale e outras empresas de mineração levanta questões cruciais sobre a implementação de práticas sustentáveis e a gestão dos impactos sociais decorrentes da atividade mineradora. A pressão para equilibrar crescimento econômico com a preservação ambiental e a melhoria das condições de vida dos habitantes locais ressalta a importância de políticas públicas eficazes e do engajamento das empresas na promoção de um desenvolvimento que beneficie de forma equitativa a população e o meio ambiente.

A escolha do nome “Carajás” reflete a importância geográfica e geológica da Serra dos Carajás, que domina a paisagem do sudeste do Pará. Este acidente geográfico não apenas confere identidade à região, mas também tem sido um fator crucial na sua trajetória econômica. A Serra dos Carajás é notoriamente conhecida por suas vastas reservas de recursos minerais, incluindo ouro, ferro e manganês, que desempenham um papel central na economia local e nacional.

A exploração mineral, especialmente a de ferro e cobre, estabeleceu-se como a principal atividade econômica de Canaã dos Carajás. A empresa Vale, um dos maiores conglomerados minerais do mundo, é a principal responsável pela extração desses recursos. Este setor tem gerado significativas receitas para o município, transformando-o em um dos maiores polos econômicos do Brasil. Em 2020, a arrecadação do município ultrapassou em 34 vezes o valor registrado em 2016, evidenciando o impacto da mineração na economia local.

O impacto da mineração em Canaã dos Carajás é refletido nos impressionantes números financeiros. Em 2020, a arrecadação municipal experimentou um crescimento explosivo, superando em 34 vezes os valores registrados em 2016. Este aumento fenomenal demonstra não apenas o potencial da mineração para gerar riqueza, mas também como as políticas de exploração mineral podem transformar a economia local.

O crescimento acentuado da arrecadação pode ser visto como um reflexo direto da expansão das operações mineradoras e da valorização dos minerais extraídos na Serra dos Carajás. No entanto, a predominância da mineração como principal motor econômico de Canaã dos Carajás também acarreta uma série de desafios. A dependência quase exclusiva da atividade mineral torna a economia local vulnerável às flutuações dos mercados globais de commodities. Mudanças nos preços internacionais de ferro, cobre e outros minerais podem ter efeitos profundos na estabilidade econômica da cidade, exigindo uma gestão cuidadosa e estratégias de diversificação econômica para mitigar riscos e assegurar a sustentabilidade a longo prazo.

O rápido crescimento econômico impulsionado pela mineração levanta questões sobre os impactos sociais e ambientais associados. O aumento das receitas e da atividade econômica deve ser equilibrado com a responsabilidade ambiental e o bem-estar das comunidades locais. A exploração mineral intensiva pode ter efeitos adversos, como desmatamento, poluição e deslocamento de comunidades, que exigem uma abordagem integrada para garantir que o desenvolvimento econômico não comprometa a qualidade de vida e a integridade ecológica da região.

Desde muito cedo, as cidades que compõem Pacacu (Parauapebas, Canaã e Curionópolis) se formaram via assentamentos da GETAT – como supramencionado – e surgiram de fato como cidades a partir do município de Marabá. O projeto Ferro Carajás, o garimpo de Serra Pelada e a hidrelétrica de Tucuruí são emblemáticos de uma onda migratória que transformou profundamente a Região de Carajás, situada no sul e sudeste do Pará.

Esses empreendimentos, de grande envergadura e impacto, atraíram milhares de trabalhadores e garimpeiros, muitos dos quais deixaram suas atividades nas lavouras para buscar novas oportunidades nesta região rica em recursos minerais. A mineração emergiu como o setor predominante, catalisando um fluxo contínuo de pessoas e empresas, tanto nacionais quanto internacionais, que foram seduzidas pelas promessas de lucros e prosperidade oriundos das vastas jazidas minerais e das inúmeras possibilidades econômicas oferecidas pelo território.

Historicamente, a Região de Carajás tem sido um ponto de convergência para um grande contingente populacional, incentivado pela perspectiva de ganho econômico. Desde as últimas décadas do século XX, a exploração mineral na Amazônia deixou de ser uma atividade clandestina para se tornar uma empreitada respaldada por legislações específicas, atraindo não apenas investidores, mas também um fluxo considerável de pessoas em busca de emprego e melhoria de vida.

A presença crescente de empresas, tanto nacionais quanto estrangeiras, consolidou a mineração como uma força dominante na economia local, intensificando a competição por recursos e exacerbando disputas territoriais. Este afluxo populacional gerou um cenário de disputas territoriais acirradas, com consequências nefastas para as comunidades locais. Colonos, ribeirinhos e povos indígenas enfrentam a expropriação de suas terras, uma situação frequentemente agravada pela atuação de grandes empresas que disputam o controle do território.

A grilagem de terras, uma prática ilegal que visa a posse indevida, tornou-se um meio comum de ocupação, resultando em uma série de conflitos e violência, incluindo o elevado número de assassinatos de trabalhadores rurais, religiosos e advogados no Sul e Sudeste do Pará.

No contexto das disputas agrárias e da exploração mineral, o quadro socioeconômico da região se complica ainda mais com a urbanização acelerada. As atividades relacionadas à terra, como a agricultura, pecuária e exploração mineral, moldam profundamente a dinâmica das cidades amazônicas, influenciando a configuração urbana e o processo de desenvolvimento regional. A expansão da fronteira agrícola e a crescente mineração não apenas alteram o meio ambiente, mas também reconfiguram a paisagem social e econômica dos centros urbanos. A explosão demográfica observada nos municípios de Marabá e Parauapebas é um reflexo direto dessa transformação.

O crescimento acelerado dessas cidades é um indicador claro da influência das atividades econômicas na expansão urbana. Canaã dos Carajás, por sua vez, acompanhou esse fenômeno de maneira significativa, especialmente após o início das obras de implantação do projeto S11-D em 2010, que impulsionaram ainda mais a urbanização e a transformação da região.

Portanto, a Região de Carajás, marcada por um complexo entrelaçamento de atividades econômicas e sociais, revela um cenário de contrastes e conflitos. A urbanização e o crescimento populacional estão intrinsecamente ligados à expansão da mineração e da agropecuária, evidenciando a interdependência entre os processos de desenvolvimento econômico e as dinâmicas sociais na Amazônia. As tensões e desafios enfrentados pela região são um reflexo das profundas mudanças que moldam o futuro deste território vibrante e multifacetado.

Aqui não é difícil, não é fácil, é apenas diferente, como frisou em entrevista realizada em agosto de 2024 a senhorita Junylia Marques, servidora Pública Estadual residente em Canaã dos Carajás: “Pessoalmente é gratificante observar esse crescimento rápido e contínuo, perceptível na grande oferta de empregos e nas possibilidades de empreender. Consequentemente, influencia na qualidade de vida e na estabilidade financeira dos moradores. No momento, se compararmos os serviços públicos de outras cidades próximas e de economias semelhantes, com toda certeza a qualidade dos serviços de Canaã dos Carajás é superior. Há acessibilidade na saúde, educação e outros setores. Obviamente, alguns setores precisam ser aprimorados, mas os serviços funcionam”.

Em síntese, Canaã dos Carajás ilustra como os grandes projetos de desenvolvimento, impulsionados por interesses nacionais e internacionais, podem transformar profundamente uma região. Contudo, esta transformação vem acompanhada de uma série de desafios que exigem uma abordagem equilibrada para garantir um desenvolvimento sustentável e inclusivo.

Humanização e não somente mineração

Na terra do minério também tem leite e mel, o manjar da vida não é só a comida, do contrário seríamos como os porcos. Há necessidade de humanização e ela tem que ser diária, cabendo à gestão da cidade incentivar e proporcionar isso. Em entrevista concedida aos autores deste artigo em abril de 2024, a prefeita de Canaã dos Carajás, Dra. Josemira Gadelha, destacou a importância do acolhimento às pessoas que chegam ao município sem um contrato com alguma prestadora de serviços. Nem todo mundo vive ou vai viver da mineração nesse lugar de fronteira.

“Ser um município minerador, traz-nos muitos desafios. Nós temos a grata satisfação de sediarmos em nossa cidade uma das maiores minas de Ferro do planeta, isso traz geração de emprego e renda, e é muito positivo contribuir com o desenvolvimento econômico da nossa cidade. Em contrapartida, traz grandes desafios porque recebemos pessoas todos os dias em busca desses empregos ofertados pela mineradora, e que na verdade não consegue contemplar todos que chegam aqui. Cada cidadão que chega a nossa cidade, cabe ao município cuidar, e nós temos que cuidar da saúde, assistência à educação, assistência social, dentre outros”, diz a prefeita.

“Todos os anos dessa pessoa aqui em Canaã, temos que nos preocupar com segurança, com trânsito, isso traz um enorme desafio para o município minerador e nós vivemos tentando equilibrar isso. Aí os recursos da Cfem, que nós arrecadamos, temos investido em infraestrutura, na construção de escolas, unidades de saúde para atender a nossa população, cuidar das nossas principais avenidas e oferecer qualidade de vida para as pessoas. Em resumo, é tudo isso, mas não é só estrutura, cuidar não é apenas a estrutura física, cuidar, que eu trouxe como meta para o meu governo, é você trabalhar uma política pública que efetivamente entre na casa das pessoas. Então esse acolher exige pessoas com humanização. Não, não são apenas prédios, não é apenas o asfalto, não é apenas a iluminação, o cuidar é você levar dignidade para essas pessoas, então a política participativa lembra muito o que minha gestão tem feito”, finaliza Josemira Gadelha.

Essas falas revelam uma preocupação fundamental, a qual dispõe sobre um viver não só para morrer de trabalhar, mas de trabalhar para viver bem, com qualidade de vida. “Nem só de pão vive o Homem”, nem só de trabalho se sustenta, pois é preciso artes, turismo, educação e saúde para prosperar mentalmente, além de financeiramente. A referida prefeita foi muito feliz nessas primeiras falas da entrevista. Além disso, pensar no bem estar e acolhimento das pessoas é também pensar em diversificação econômica.

A prefeita disse, ainda: O minério é finito, então eu vejo a nossa região e nós temos que trabalhar também Canaã dos Carajás como muito forte à questão do Turismo, nós estamos inclusive levantando a bandeira do turismo ecológico e também do turismo de eventos, o turismo de saúde, o turismo de educação, turismo de negócios. Tudo isso aqui, a nossa região propicia, e nós temos que trabalhar pensando nisso, o minério é finito, o recurso que nós arrecadamos hoje da própria terra deve diversificar nosso lugar”.

“Para que a gente possa investir nesse desenvolvimento futuro, pensando em como a gente pode estabelecer algumas metas para alcançar antes da exaustão da mineração. Até porque nem todo mundo trabalha diretamente com a mineração, então todo mundo fala exatamente em trazer investimentos diversos, por isso citei o turismo de eventos, porque aí envolve a gastronomia, os empreendedores locais, o turismo da Saúde, construindo hospitais, como nós estamos fazendo em Canaã dos Carajás. Tudo isso atrai também muitas pessoas para instalar suas clínicas aqui, contribuindo para o avançar na saúde, no turismo da educação com a construção de universidades na cidade, atraindo também as universidades privadas e isso atrai mais pessoas para gerar emprego e renda. Investir em cursos proporciona avanços também na nossa educação, isso é uma boa gestão que gera confiança ao mercado”, complementou.

Pensar a cidade para depois da mineração é uma virtude para poucos, porque falar quase todo mundo fala, mas fazer e efetivar o dito pelo dito é para poucos, mesmo. Há um projeto de Parque Temático em Canaã dos Carajás para contar a história da cidade e também destacar a mineração, o meio ambiente e sua preservação e, é claro, destacar a fauna e flora com a devida importância de suas proteções. Não é para ser um buraco um dia de uma grande mina do passado, uma terra só de ferro, é para ser uma cidade que vai continuar para além da mineração cumprindo a promessa do leite e do mel, como a última fiandeira que puxou as cordas do destino de várias pessoas reais e sonhadoras.

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*Adriana Lima é formada em Direito e especialista na área de Direito da Mineração, Contratos e
Extrajudicial (notarial), trabalhando há mais de 08 anos na elaboração de defesas e petições jurídicas. Atua em Parauapebas-PA.
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* Marcos Albano é Graduado em História pela UFPA, professor de cursos pré-vestibulares há mais de 15 anos, apreciador das artes, Filósofo das impurezas existencialistas, especialistas em História Colonial, Africana e das Artes. Escritor das teimosias e inquietudes, poeta amado e rejeitado. Um inconformado professor. Atuou como gestor escolar, sendo especializado em educação inclusiva e gestão escolar e professor da rede pública há dez anos em Parauapebas-PA.

  

Adriana Lima e Marcos de Albano

No chão das promessas.

Os sertões são demasiadamente incertos,

Nada é perto, tudo é longe.

A parte de família que deixamos,

A parte do coração que todo dia quebramos.

 

Fica preso em nós um insólito mistério,

Será que fazemos o certo?

Será que estamos nos caminhos corretos?

Será que provemos a alma de um tanto do corpo?

 

Ao que esperamos é sempre esperança,

Uma primeira música ou uma última dança.

Que não nos assombre esse tempo de fogo,

Que não nos canse essa espera pela bonança.

 

Que não nos corrompa o tempo dos dragões,

Que não percamos as paixões por causa dos trilhos de ferro e aço,

Por causa do Manganês, do Ouro e do Cobre

Que não sejamos feitos em pedaços.

 

Na chuva eu me curo, no Sol eu renasço.

Espinha dorsal de minha fé inabalável.

Me faça invicto, Carajás, chão das promessas,

Vibrante e amável.

 

Mariana Santos e Márcia Itaborahy
Mariana Santos e Márcia Itaborahy

 MM Advocacia Minerária 

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