Conforme anunciado por algumas lideranças da Vale em outras reportagens, fica evidente o potencial de exploração do minério de ferro na região norte/nordeste de Minas, principalmente no município de Conceição do Mato Dentro, o qual dispõe de uma oferta significativa de toneladas de minério.
Vários projetos estão em fase de estudos desde os anos 2000 com mapeamentos e análises. Bem antes da implantação das instalações da Anglo em Conceição, diversas pesquisas já estavam em curso. Em 2007 tive a oportunidade de conhecer uma aeronave de pequeno porte dotada de um conjunto de câmeras e equipamentos que estavam com uma programação de mapeamento aéreo da região. Para falarmos de viabilidade de exploração, não temos muito o que dizer: temos informações suficientes que indicam o potencial de desenvolvimento da mineração de Conceição do Mato Dentro e em outros municípios próximos.
O que mais se discute tecnicamente é a viabilidade de implantação de uma planta de beneficiamento local ou logística da exploração para instalações próximas. É o caso de Itabira, que aparenta possuir capacidade futura de receber minério de outras minas diante da redução na exploração do município, que foi anunciada pela própria Vale em 2018.
Alguns fatores são determinantes para a tomada de decisão. A primeira delas é o custo, pois a construção das plantas de beneficiamento é relativamente cara, podendo inviabilizar todo o projeto. A transferência por correias transportadoras para as instalações de Itabira fica inviável em longas distâncias pois os equipamentos demandam projetos audaciosos com instalações de imensos motores elétricos e casas de transferências. É Importante ressaltar que as correias não são tão econômicas, principalmente, por causa das manutenções e do consumo de energia elétrica. Para se ter uma ideia, a maior correia transportadora do mundo está no Saara Ocidental com 98 quilômetros em relevo totalmente favorável e transportando rochas em um ritmo de 2.000 toneladas por hora. Uma das maiores correias construídas pela Vale em Minas Gerais está em Nova Lima, na mina de Vargem Grande, com 9,6 quilômetros.
É um fato que o relevo em Minas Gerais é um agravante para projetos de grandes estruturas. Nosso estado é bastante montanhoso, o que é um fator complicador até mesmo para chegar à região de Conceição do Mato Dentro. Nas instalações da Vale no estado do Pará estão sendo adotadas as correias transportadoras diante de viabilidades pontuais, como por exemplo, a mina S11D que possui tecnologia na escavação e transporte para as usinas reduzindo custos principalmente com combustíveis das máquinas e caminhões fora de estrada. Na ocasião de movimentar este material para Itabira por ferrovias, temos pontos de atenção que são o embarque e o desembarque do material. Esses pontos são considerados críticos do transporte ferroviário. Temos que levar em consideração que para embarcar em Conceição, desembarcar em Itabira para beneficiar nas usinas e embarcar novamente, teríamos custos operacionais elevados além da estrutura necessária para estas atividades. Se observarmos a complexidade de descarga dos vagões no porto de Tubarão em Vitória-ES, podemos ter uma ideia dessa complexidade. É importante ressaltar que os problemas de uma ferrovia atravessando reservas ecológicas e comunidades já é um cenário complexo que impacta bastante com paralisações na atual Estrada de Ferro Vitória a Minas EFVM. A opção pelo beneficiamento local e transporte por minerodutos (tubulações com água), ao meu ver, é a mais econômica, mas com um fator complicador que é a utilização de água, um recurso natural que apresenta certa escassez em determinados períodos do ano.
Existem rumores de uma possível filtragem passando da condição líquida (minério com água) para o minério seco sendo embarcado em vagões no pátio de Desembargador Drummond em Nova Era seguindo pela EFVM. Uma boa alternativa seria a utilização da estrutura já existente da Anglo American com uma ampliação da capacidade de produção das usinas e construção de uma filtragem e carregamento em Nova Era, já que as tubulações desta já atravessam o pátio de Drummond atualmente seguindo em direção ao estado do Rio de Janeiro.
A mineração possui inúmeros fatores que influenciam na viabilidade de um projeto. Me lembro que alguns diretores da Vale diziam que em tempos de minério de ferro com alto valor no mercado internacional, diversas empresas mineradoras fantasma surgem e desaparecem quando o assunto é reduzir custos no processo ou quando o valor da tonelada possui uma baixa no mercado. A logística do material representa muito no valor final de produção. Os Australianos, também produtores de minério de ferro, estão bem próximos da China que é o principal consumidor da commodity e logo eles entregam o produto com menor custo de transporte.
Cabe às empresas brasileiras serem cada vez mais eficientes garantindo a competitividade. O preço da tonelada de minério no mercado será um fator determinante nestas decisões. Uma boa ideia seria a unificação da Vale e da Anglo, pois ambas já possuem uma sólida estrutura de beneficiamento e transporte de minério de ferro. Será que existe a possibilidade da criação de uma nova empresa nos moldes da unificação da Vale e BHP, quando surgiu a Samarco? Veremos as cenas dos próximos capítulos. Uma coisa da qual eu tenho certeza é a capacidade de implementar a melhor solução pela equipe da Vale, a qual possui um grupo de estudos sólido, experiente e eficiente. Tudo isto vai nos gerar riqueza, trabalho e recursos para a região. São ventos bons em nossa direção.
Maurício Eleto
Professor, instrutor e especialista em soluções e emergências industriais da ETECMA Soluções.