Nos últimos 25 anos, o minério de ferro viveu uma era de valorização extraordinária, impulsionada principalmente pela demanda crescente da China. Esse superciclo de alta, no entanto, parece estar chegando ao fim, trazendo consigo desafios relevantes para os municípios brasileiros que dependem da mineração como fonte de receita.
Com a desaceleração da demanda chinesa e o aumento da oferta global de minério de ferro, o setor enfrenta uma nova realidade, marcada por preços mais baixos, o que impacta, inevitavelmente, em menos arrecadação de tributos.
Ascensão e queda do preço do minério de ferro
Desde o final da década de 1990, o minério de ferro registrou um crescimento impressionante, impulsionado pela demanda chinesa por aço. O preço da commodity chegou a atingir picos de quase US$ 220 por tonelada em 2021.
A trajetória de alta, no entanto, foi interrompida e atualmente o que se vê são cotações em queda livre, com preços próximos a US$ 100 por tonelada — redução de 55% em relação ao recorde histórico.
A transição da economia chinesa, que agora se concentra mais em serviços e menos em em infraestrutura, mudou drasticamente o cenário de demanda por aço, com impactos diretos nos preços da commodity.
Analistas preveem que o mercado poderá sofrer ainda mais com a chegada de novas minas de baixo custo na Austrália e na África (este artigo da Bloomberg traz observações importantes).
Com o aumento da oferta e a desaceleração da demanda, o mercado pode enfrentar um excedente de produção, forçando uma queda ainda maior dos preços, possivelmente para níveis abaixo de US$ 80 por tonelada (os analistas do Citi acham que é possível).
Imagem: Divulgação – Impacto dessa nova realidade deve atinge diretamente as cidades mineradoras, especialmente nos estados de Minas Gerais e Pará
O fim do superciclo do minério de ferro deve atinge diretamente as cidades mineradoras, especialmente nos estados de Minas Gerais e Pará. A principal fonte de receita desses municípios provém da mineração, como a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), tributo que destina 65% do total arrecadado aos municípios.
A alíquota da CFEM é de 4% sobre a receita bruta da venda do minério de ferro, o que significa que a queda no valor do mineral tem efeito direto na arrecadação municipal — sem considerar o câmbio.
Dados da ANM mostram, inclusive, tendência de queda na receita para municípios. Em 2021, por exemplo, os municípios receberam R$ 6,1 bilhões em CFEM, valor que caiu para R$ 4,9 bilhões em 2022 e para R$ 2,8 bilhões em 2023.
Fim do superciclo do minério: perspectivas e desafios
Os próximos anos podem ser desafiadores para as regiões que historicamente se beneficiaram da alta do minério de ferro. A diversificação econômica, sempre discutida como necessária, torna-se uma questão ainda mais urgente.
Sem a possibilidade de contar com novos ciclos de expansão na mineração, os municípios precisarão buscar alternativas, como o desenvolvimento de novas cadeias produtivas ou o investimento em setores não ligados à extração mineral.
Além disso, a queda na arrecadação via CFEM poderá gerar pressão por parte dos governos locais para revisar o modelo de distribuição dos royalties, buscando aumentar a fatia destinada aos municípios.
Outro ponto a se observar é o impacto social dessa transição, com potenciais demissões no setor e a consequente redução no dinamismo econômico regional.