Conselheiro da Vale renuncia ao cargo e denuncia intervenção política na mineradora

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Em uma carta enviada ao presidente do Conselho de Administração, Daniel Stieler, o Conselheiro da Vale José Luciano Duarte Penido expressou sua indignação em relação ao processo de sucessão do CEO da Vale, afirmando que este tem sido conduzido de maneira manipulada por influência política prejudicial.

“Apesar do meu respeito pelas decisões colegiadas, é minha convicção que o atual processo sucessório na Vale está sendo conduzido de forma manipulada, não em consonância com os melhores interesses da empresa, e está sendo influenciado de maneira evidente e prejudicial por questões políticas”, escreveu Penido na carta de renúncia obtida pelo G1.

Penido também expressou sua descrença na capacidade de acionistas relevantes da Vale em cumprir o objetivo de elevar a governança da empresa ao nível de uma corporação de renome.

Ex-conselheiro da Vale disse que as decisões na empresa são pautadas por interesses particulares

Ele afirmou que no Conselho se formou uma maioria cujas decisões são pautadas por interesses particulares de alguns acionistas, enquanto outros têm agendas pessoais bastante específicas ou evidenciam conflitos de interesse.

“O processo tem sido marcado por vazamentos frequentes, detalhados e tendenciosos para a imprensa, demonstrando uma clara falta de compromisso com a confidencialidade”, acrescentou o ex-conselheiro da Vale.

Diante desse cenário, Penido considerou que sua permanência no conselho se tornou ineficaz, desagradável e frustrante.

Em resposta às preocupações levantadas por Penido, a Vale divulgou um comunicado ao mercado afirmando que o processo de escolha do presidente da companhia está em conformidade com o estatuto da empresa, seu regimento interno e suas políticas corporativas.

“Em resposta às notícias veiculadas na imprensa sobre o conteúdo da carta de renúncia do Sr. José Luciano Duarte Penido, o Conselho de Administração da Vale esclarece que o processo de seleção do presidente da empresa está sendo conduzido estritamente de acordo com o Estatuto Social da Vale, seu Regimento Interno e políticas corporativas”, afirmou a empresa.

Saída do conselheiro da Vale pode trazer prejuízos

A saída do Conselheiro da Vale José Luciano Duarte Penido tem gerado repercussões principalmente no âmbito político. Composto por representantes dos acionistas eleitos em assembleia, o colegiado desempenha um papel crucial nas decisões estratégicas da empresa.

Na estrutura atual da Vale, o conselho possui 13 assentos, dos quais oito são ocupados por conselheiros considerados independentes, enquanto os quatro restantes são representantes de acionistas de referência, como Previ, Bradespar e Mitsui, além do representante dos empregados.

A saída de Penido como Conselheiro da Vale, portanto, tem implicações políticas significativas. Em um momento em que o governo já enfrenta críticas por suposta interferência política, especialmente devido à controvérsia em torno do não pagamento de dividendos extraordinários na Petrobras, a crise na Vale assume um papel ainda mais delicado, com acusações de ingerência do Executivo em sua gestão como pano de fundo.

Dessa forma, a saída de Penido do Conselho de Administração da Vale pode amplificar as preocupações sobre a influência política nas decisões corporativas, gerando um ambiente de maior escrutínio e debate público sobre a governança empresarial e a autonomia das empresas em relação ao poder estatal.

Governo Lula tenta emplacar ex-ministro no cargo de CEO da Vale

Após o anúncio feito pela Vale na última sexta-feira (8), confirmando que o atual presidente da empresa permanecerá no cargo até 31 de dezembro de 2024, o cenário para a sucessão na liderança da companhia começa a se delinear.

Segundo comunicado da Vale, a seleção do novo presidente levará em consideração os atributos e perfil necessários para enfrentar os desafios e estratégias futuras da empresa. O Conselho de Administração contará com o apoio de uma empresa de padrão internacional no processo de seleção, e o novo presidente será apresentado assim que o processo sucessório for concluído.

Essa mudança na liderança da Vale ocorre em meio a uma movimentação do governo federal para indicar o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, para o comando da companhia. Contudo, essa proposta encontrou resistência por parte dos demais acionistas da empresa, evidenciando a complexidade e a sensibilidade do processo sucessório em uma das maiores empresas do país.

A sucessão na presidência da Vale é um tema de grande relevância não apenas para a empresa e seus acionistas, mas também para o cenário econômico e político do Brasil, refletindo as tensões e interesses envolvidos na gestão de uma companhia de porte e importância estratégica como a Vale.

* Modificado em 18 de março de 2024, às 20h27

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