Presidente da Acita destaca papel estratégico das associações para a Itabira pós-mineração

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No debate sobre a necessidade de diversificação econômica de Itabira no período pós-mineração, vem ganhando cada vez mais relevância o papel das associações do Médio Piracicaba. A presidente da Associação Comercial e Industrial de Serviços e Agropecuária de Itabira (Acita), Cássia Menezes, entende que o associativismo tem papel estratégico para que o município se desenvolva de forma sustentável até o fim do ciclo de extração mineral da Vale, previsto para 2041.

O Plano Regional de Desenvolvimento do Médio Piracicaba é tratado pela empresária, reempossada recentemente para mais um biênio à frente da Acita, como o meio para a criação de um ambiente de negócios capaz de promover sustentabilidade na conjuntura econômica do município associado à região. Esse e outros assuntos estão na entrevista que ela concedeu ao Cidades Mineradoras, a seguir.

A Acita recebeu, no último mês de junho, membros da diretoria do Conselho de Administração da Vale e, na ocasião, a senhora mencionou que a entidade quer o estreitamento de relações com a empresa, com foco no Plano de Desenvolvimento Regional. Quais ações que caracterizam esse plano já estão sendo colocadas efetivamente em prática e o que ainda precisa ser desenvolvido?

Cássia Menezes – Diversificar a economia, gerar desenvolvimento socioeconômico sustentável e atrair empresas de outros setores distintos da mineração é um processo de longo prazo que exige planejamento e execução de estratégias integradas. As Associações Comerciais trabalham com pragmatismo e visão de mercado, por isso o Plano de Desenvolvimento foca na criação de um ambiente propício ao desenvolvimento de novos negócios, com estratégias voltadas à eliminação de gargalos (como burocracia por exemplo), aumento da competitividade dos municípios para atrair empresas, melhoraria da infraestrutura para elevar os indicadores de qualidade de vida, qualificação das pessoas visando a ocupação de postos de trabalho com melhor remuneração, preservação ambiental com ênfase em negócios sustentáveis e políticas públicas que reduzam as desigualdades socioeconômicas. O Plano Regional de Desenvolvimento do Médio Piracicaba é uma iniciativa de nove Associações Comerciais, Industriais, de Serviço e Agropecuárias da região que abrange os municípios de Itabira, João Monlevade, Alvinópolis, Bela Vista de Minas, Rio Piracicaba, Nova Era, Santa Bárbara, São Gonçalo do Rio Abaixo e São Domingos do Prata. Esta ação nasceu da necessidade de promover a união de esforços para a elaboração de uma pauta comum que priorize o desenvolvimento socioeconômico e ambiental da região do Médio Piracicaba, em Minas Gerais. A proposta é desenvolver, sobre os valores intrínsecos do associativismo, os alicerces do empreendedorismo, da inovação e da sustentabilidade para estabelecer e sustentar estratégias que promovam mudanças positivas para a sociedade e para o planeta. As nove Associações Comerciais, Industriais, de Serviço e Agropecuárias do Médio Piracicaba trabalham com a perspectiva da construção de uma agenda que integre as diversas iniciativas existentes, respeitando o protagonismo das instituições representativas dos vários segmentos, visando estabelecer diálogo, entendimento, cooperação e ações conjuntas para o desenvolvimento sustentável da região. O objetivo é estabelecer uma agenda de desenvolvimento sustentável para este território de Minas Gerais marcado por muitas ambiguidades socioeconômicas e ambientais. Para instituir a necessária convergência com políticas públicas já existentes, este Plano busca um alinhamento com Política Nacional de Desenvolvimento Regional do Ministério do Desenvolvimento Regional que preconiza sua atuação em prol da redução das desigualdades. Estabelecido sob quatro eixos – Fortalecimento do Associativismo, Sustentabilidade e Novos Negócios. Inovação e Desburocratização e Competividade Territorial – o Plano Regional priorizou estratégias estruturantes neste primeiro ciclo. No eixo Fortalecimento do Associativismo, a primeira fase do Plano contemplou três processos importantes: a instituição de um modelo de governança capaz de suportar as estratégias no longo prazo e convergir os interesses – já em funcionamento; a criação do Ecossistema de Inovação e Desenvolvimento Regional que já opera e conta com a participação das Associações Comerciais, Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Rio Piracicaba – Amepi, Federaminas, Sebrae, Sicoob Credimepi, Sicred Liberdade; e a instituição da Agência de Inovação e Desenvolvimento Regional Sustentável do Território Médio Piracicaba – AGIR, organismo que vai executar a coordenação de estratégias para o desenvolvimento do território exercendo uma função de inteligência territorial – em fase final de conclusão. No eixo de Inovação e Desburocratização o Plano Regional já consolidou um trabalho de pesquisa e identificação das leis, decretos e regras municipais que dificultam o desenvolvimento socioeconômico sustentável da região e inibem a competitividade do território. Este trabalho está tratando de um dos maiores entraves à diversificação da economia local e funciona em harmonia com Programa Minas Livre Para Crescer, promovido pelo Governo do Estado de Minas Gerais, que tem por objetivo tornar Minas Gerais o estado mais livre para se empreender no Brasil, promovendo mais competitividade e atrativos para se investir, propiciando crescimento econômico e maior geração de emprego e renda. O Plano priorizou também o trabalho intenso para remover um dos maiores entraves à diversificação econômica da região: a novela da duplicação da BR 381. No eixo Sustentabilidade e Novos Negócios, as Associações em parceria com a Amepi e outras entidades, trabalha para assegurar que, além da duplicação, haja uma política de manutenção da estrada. Este trabalho resultou numa das mais significativas vitórias da região com as obras de recapeamento e nova sinalização executadas ano passado no trecho entre BH e Caeté e neste ano no trecho de João Monlevade. Esta vitória foi fruto de intenso trabalho do grupo que culminou com uma visita ao Senado Federal em 2022 quando o Senador Carlos Viana assegurou R$ 70 milhões para que estas obras pudessem acontecer. Esta mobilização continua ativa e gerando resultados: as Associações foram as únicas representantes do Médio Piracicaba na Audiência Pública sobre a duplicação da BR 381, conseguiram mobilizar o governador Romeu Zema para esta demanda e, no dia 27 de junho de 2023 entregaram a Marcel Dornas Beghini, Secretário-Geral do Estado de Minas Gerais e Lucas Pitta, Subsecretário de Desenvolvimento Regional do Estado de Minas Gerais a solicitação de que o Governo de Minas promova a elaboração do estudo técnico “Duplicação das BR’s 381 e 262 – Estudo dos Impactos e Oportunidades Socioeconômicas para a Região do Médio Piracicaba” para que a região possa se preparar para auferir os maiores ganhos com a duplicação e mitigar os impactos negativos. Ainda neste eixo, o Plano está desenvolvendo um grande projeto junto com a Federaminas que está formando e qualificando uma rede de empreendedores que irão gerar novas oportunidades de negócios atrelados ao desenvolvimento dos produtos turísticos existentes, com a criação de roteiros de oportunidades no trade turístico para segmentos da economia que aproveitem a integração da região composta pelo nove municípios do Médio Piracicaba. No eixo de Competividade Territorial, o Plano prioriza a qualificação da mão de obra local para gerar mais emprego e renda na região. Uma das ações foi a elaboração do “Relatório de Demandas de Mão de Obra no Médio Piracicaba” fruto de uma pesquisa realizada pelas Associações com mais de 250 empresas de oito cidades da região, que permitiu identificar as oportunidades de emprego mais imediatas e a necessidade de profissionais. O resultado da pesquisa vai subsidiar o Governo de Minas na decisão sobre quais são os cursos mais apropriados para cada município dentro do Programa Trilhas do Futuro. Esta iniciativa das Associações é inédita em Minas e representa um enorme ganho para todos: o Governo de Minas vai poder ofertar cursos profissionalizantes que realmente tenham demanda na cidade, permitindo assim melhor uso do recurso público; os alunos terão mais facilidade de encontrar vagas de emprego ou oportunidades para empreender porque estarão se qualificando em áreas que oferecem vagas de trabalho na cidade; as empresas poderão contar com colaboradores mais bem preparados em profissões que há demanda de mercado e as cidades irão reduzir os índices de desemprego porque terão pessoas se profissionalizando em setores onde há carência de mão de obra e certamente boa oferta de emprego. Vale ressaltar que o Plano Regional de Desenvolvimento do Médio Piracicaba é uma agenda de longo prazo, com um horizonte de trabalho para dez anos contemplando estratégias que verdadeiramente coloquem o Médio Piracicaba no mapa do desenvolvimento sustentável. Dentro deste princípio, é um trabalho contínuo que alinha-se com outras agendas municipais para ganhar força e motricidade.

Como a Acita participa do processo de diversificação econômica de Itabira, considerando a preparação para o período pós-mineração? O que já é feito agora e o que é planejado para depois que a Vale cessar a extração mineral no município?

Cássia Menezes –Historicamente a Acita sempre participou das discussões sobre a diversificação econômica de Itabira. Desde a década de 1990 com o Projeto Itabira 2025 até os momentos atuais, a entidade tem um legado legítimo de contribuições neste tema. Infelizmente há uma triste realidade de descontinuidade dos projetos provocada pela desarticulação das lideranças, fato que impede a implantação de uma visão de longo prazo e a conseqüente efetivação dos resultados necessários. Um dos mais destacados projetos é Fórum Permanente de Desenvolvimento, Sustentabilidade, Inovação que reuniu 72 entidades para estudar, debater e apresentar propostas para o município. Este trabalho resultou no primeiro Plano de Metas de Itabira com 132 metas e indicadores e foi tornado lei municipal por meio de uma Emenda à Lei Orgânica outorgada em 2015 e retificada em 2018. Este Plano é uma agenda de sociedade que definiu importantes ações para que Itabira dê um salto de competitividade, eliminando antigos gargalos ao desenvolvimento e criando bases sólidas para diversificar a economia. Como resultado do Fórum Permanente, a Acita lançou o WIN, que começou como uma Feira de Negócios Regional e se transformou em um Programa voltado à diversificação econômica. Toda a discussão com a sociedade, representada pelas 72 entidades que formam o Fórum, a entidade identificou quatro caminhos – ou eixos – para que o município consiga avançar em ações efetivas para a diversificação econômica: economia criativa, agronegócio, tecnologia e fortalecimento da economia local. Nestes quatro eixos foram desenvolvidas diversas ações que geram resultados, sendo o AGROWIN uma das mais relevantes, visto que avançou numa agenda com os produtores rurais de Itabira que identificaram suas demandas prioritárias e trabalham na consolidação das estratégias estabelecidas. Um dos resultados mais visíveis é o significativo aumento da produção de banana no município que teve um incremento de 12.000% em pouco mais de 5 anos. Hoje os produtores locais já conseguem abastecer 29% do mercado consumidor de banana de Itabira. Atualmente a Acita trabalha junto com outras entidades no Projeto de Reconversão Produtiva de Itabira que estabeleceu seis eixos – que incluem os estabelecidos pelo WIN – para a diversificação econômica. Vale ressaltar que toda cidade é um organismo dinâmico e altamente marcado por mudanças que exigem um permanente olhar para novas oportunidades e desafios, especialmente perceptíveis pela interdependência das relações com outros municípios vizinhos. Note-se aqui o conceito de território para o planejamento de estratégias para o desenvolvimento, numa clara visão de ecossistema. Por conta dessa realidade, a Acita trabalha em harmonia com os municípios da região no Plano Regional de Desenvolvimento do Médio Piracicaba e na consolidação da Agenda 100 anos, com uma pauta que foi apresentada aos Conselheiros da Vale.

Em relação ao novo mandato da senhora à frente da Acita, haverá alguma mudança significativa em relação às políticas adotadas pela entidade?

Cássia Menezes –Sim. A Acita completará 100 anos em 2025, estamos em reformas e construções. A Acita chegará aos 100 anos consolidando ainda mais seu protagonismo enquanto entidade, sendo hoje uma liderança local e regional, articuladora, estratégica, visionaria que mostra sua flexibilidade institucional através de várias parcerias. 

Além dos programas que já estão consolidados, haverá novidades na Acita em relação a mais ações visando o desenvolvimento da classe empresarial no município?

Cássia Menezes – Sim, o objetivo é estabelecer um sistema associativista mais maduro, onde o empresário não espere que a associação comercial salve o seu negócio ou resolva problemas individualmente, mas que entenda a importância do coletivo, da cultura de cooperação, da contribuição para a comunidade, porque nossos negócios além de gerar empregabilidade precisam ajudar a desenvolver a cidade, torná-la mais forte, mais competitiva, com identidade geográfica.

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