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No Dia da Mulher na Mineração, reafirmamos que uma mineração justa começa com todas as vozes

Imagem: MM Advocacia - Ontem, 15 de junho, celebrou-se o Dia da Mulher na Mineração. Uma data simbólica no calendário corporativo, mas também um marco para olhar para trás com reverência, para o presente com consciência e para o futuro com ousadia.

Ontem, 15 de junho, celebrou-se o Dia da Mulher na Mineração. Uma data simbólica no calendário corporativo, mas também um marco para olhar para trás com reverência, para o presente com consciência e para o futuro com ousadia. É o dia de lembrar que, durante séculos, a mineração foi território vedado às mulheres, que, mesmo assim, ali estiveram. Estiveram como operárias anônimas, como donas de concessões invisibilizadas, como líderes comunitárias silenciadas, como técnicas e profissionais que lutaram pelo reconhecimento. Hoje, essa presença deixa de ser subterrânea para se tornar estruturante.

No século XIX, Mrs. Robert K. Reid registrou sua própria concessão de prata em Utah, algo inédito para uma mulher na época. Emily Hahn, em 1926, tornou-se a primeira engenheira de minas formada nos Estados Unidos. Gertrude Selma Sober Field descobriu jazidas e estudou geologia aos 64 anos, provando que não há prazo para ocupar o que nos foi negado. Foram passos firmes em um solo hostil, abrindo caminho para que muitas pudessem caminhar depois delas.

Ao longo do século XX, surgiram os primeiros coletivos. A Women in Mining USA foi fundada nos anos 1970. Mais tarde, no Reino Unido, surgiu o WIM UK, com o WIM100 Awards, reconhecendo mulheres de destaque no setor em todo o mundo. Na África, Georgette Barnes Sakyi-Addo passou a liderar a Women in Mining Ghana e a AWIMA, promovendo a formação técnica e a inclusão. Na Indonésia, Yosepha Alomang enfrentou gigantes da mineração para defender sua terra e seu povo, tornando-se símbolo global da resistência socioambiental.

No Brasil, essa caminhada tem se consolidado com o trabalho da Women in Mining Brasil (WIM Brasil), rede nacional que articula mulheres em diferentes áreas da mineração. A organização promove eventos, mentorias e políticas inclusivas que vão além da retórica. O WIM Brasil mostra que a presença feminina na mineração não é tendência, é competência consolidada.

Mas é fundamental afirmar que mulheres da mineração não são apenas aquelas que operam máquinas ou executam projetos de lavra. A mineração é feita também nos espaços de negociação, de escuta, de regulação e de defesa. Nesse contexto, o MM Advocacia Minerária, escritório fundado por duas mulheres advogadas, Mariana Santos e Márcia Itaborahy, se apresenta como ator essencial. Atuamos na interface entre os direitos das comunidades, a governança mineral e a responsabilidade social. Somos mulheres da mineração porque estamos onde ela começa e onde ela deve prestar contas: nos territórios, nas audiências públicas, nos embates jurídicos, nas relações com superficiários, comunidades e órgãos do Estado.

Não empunhamos martelos geológicos, mas manejamos leis, pactos, normas e acordos. Trabalhamos lado a lado com mineradoras, órgãos ambientais, prefeituras, ministério público, sociedade civil e comunidade, em busca de equilíbrio e legitimidade. A mineração é também escuta, reparação e futuro. E, nesse futuro, advogadas minerárias, como nós, são presença firme e necessária. Somos parte da construção de uma mineração que respeita o solo e quem o habita.

Na esfera corporativa, há conquistas importantes. A Anglo American, por exemplo, já conta com 30% de mulheres em posições de liderança. Taylee Healy, supervisora da Rio Tinto, destacou que o número de mulheres na mineração australiana saltou de menos de nove mil para mais de quarenta e cinco mil em poucos anos. Ainda assim, desafios persistem. Faltam políticas adequadas de permanência, segurança, inclusão. Persistem assédios, invisibilizações e estruturas pensadas por e para homens.

Deshnee Naidoo, executiva de destaque, apontou que há uma nova forma de resistência ao avanço feminino: discursos supostamente neutros que disfarçam misoginia sob a capa da opinião. Esse retrocesso cultural tem se espalhado silenciosamente em corporações e ambientes de decisão. Por isso, a vigilância deve ser constante e o compromisso com a equidade, inegociável.

Estudos da Organização Internacional do Trabalho e de instituições como o CIM no Canadá mostram que, embora os avanços sejam reais, ainda falta infraestrutura básica, como vestiários, EPI adequados, protocolos de assédio e modelos de trabalho menos excludentes. As mulheres continuam tendo de provar, muitas vezes, que podem estar ali. Mas a verdade é que já estão, e fazem melhor, quando têm espaço.

Neste 15 de junho, lembrar o Dia da Mulher na Mineração é reconhecer que a mineração feita por mulheres é mais ampla, mais profunda e mais transformadora. Não se limita à técnica, mas se estende à ética, à justiça, à sustentabilidade. Somos engenheiras, operadoras, cientistas, técnicas, geólogas, gestoras, líderes, advogadas. Somos o presente e o futuro do setor.

E sim, somos mineradoras. Somos aquelas que abrem galerias no solo e também na estrutura social. Somos aquelas que extraem riqueza, mas que devolvem valor. Somos aquelas que ocupam o subsolo, o território, a mesa de negociação, o fórum judicial e o coração das comunidades afetadas. Cada vez que nos afirmamos nesse lugar, fazemos da mineração um território mais justo, mais plural e mais humano.

Referências

Anglo American – Gender and Inclusion Report – https://www.angloamerican.com/sustainability/our-people/diversity-and-inclusion

Association of Women in Mining in Africa (AWIMA) – https://awimaafrica.org/

CIM Magazine – Fly-In/Fly-Out Impact on Women (Canadá) – https://magazine.cim.org/en/news/2023/the-fly-in-fly-out-problem/

Georgette Barnes Sakyi-Addo – Women in Mining Ghana –  https://www.womeninminingghana.org/

Goldman Environmental Prize – Yosepha Alomang – https://www.goldmanprize.org/recipient/yosepha-alomang/

IBRAM – Mulheres na Mineração – https://ibram.org.br/iniciativas/mulheres-na-mineracao/

International Labour Organization (ILO) – Gender and Mining – https://www.ilo.org/global/topics/equality-and-discrimination/gender-and-mining/lang–en/index.htm

MSHA – A Brief History of Women in Mining https://www.msha.gov/news-media/special-initiatives/women-mining/brief-history-women-mining

National Mining Hall of Fame – Inductees – https://www.mininghalloffame.org/inductees

PDAC (Canada) – Awards for Women in Mining – https://www.pdac.ca/about-pdac/awards

Women in Mining Brasil (WIM Brasil) – https://www.womeninminingbrasil.org/

Women in Mining UK – WIM100 Awards – https://www.womeninmining.org.uk/wim100/

Mariana Santos e Márcia Itaborahy
Mariana Santos e Márcia Itaborahy

MM Advocacia Minerária

 

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