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Vale cria nova empresa para produzir e comercializar areia feita a partir de rejeitos

Foto: Divulgação - Mineradora prevê faturar R$ 18 milhões por ano com a venda de 1 milhão de toneladas de rejeitos que deixam de ir para as barragens; Nova empresa aproveitará a logística que já existe para se tornar viável

 

A mineradora Vale (VALE3) anunciou ao mercado nesta terça-feira (17) a criação da Agera. A empresa terá a missão de comercializar e distribuir areia fabricada a partir de seus rejeitos de minério de ferro com o objetivo de reduzir a necessidade de alocar os resíduos em barragens.

Segundo informaram executivos da Vale à agência de notícias Reuters, a nova empresa foi criada a partir de um “spin off” (empreendimento secundário) e prevê a venda anual de cerca de 1 milhão de toneladas de areia para várias finalidades. A receita estimada pela empresa é de R$ 18 milhões. Somente em 2022, a Vale produziu 47 milhões de toneladas de rejeitos. A empresa espera ampliar a fabricação da areia a partir das operações dos próximos anos.

“A Vale já vem procurando dar destino mais sustentável aos seus rejeitos desde 2014, já tem um longo tempo de pesquisas”, afirmou a gerente geral de Novos Negócios da Vale, Tatiana Teixeira, à Reuters. “O objetivo é dar um destino mais sustentável, uma mineração mais circular, reduzir nossa dependência das estruturas para disposição de rejeitos e estéril”, complementou.

A Agera

Sediada em Nova Lima (MG), a Agera recebe a areia produzida a partir do tratamento dos rejeitos. A Vale já fazia a comercialização e distribuição do subproduto desde 2021. Os rejeitos são gerados a partir do processamento a úmido do minério de ferro, método utilizado atualmente em menos de 30% da produção da mineradora. O material é composto basicamente de sílica, o principal componente da areia, e óxidos de ferro.

Desde então, já foram destinados pela Vale ao setor de construção civil e a projetos de pavimentação rodoviária cerca de 900 mil toneladas do produto, segundo informou a Agera. A expectativa é atingir a comercialização de 2,1 milhões de toneladas em 2024, ampliando a receita ante 2023 para 63 milhões de reais, e cerca de 3 milhões de toneladas em 2025.

A maior parte da areia é produzida atualmente na mina de Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo (MG). Somente em 2022, 3,6 milhões de toneladas de rejeitos foram produzidas no local. A Vale estima que atualmente cerca de 330 milhões de toneladas de areia sejam utilizadas no Brasil anualmente na construção civil e e na indústria, segundo apurado pelo Infomoney. Com baixo valor agregado, o produto também precisa ter baixo custo para ser comercializado.

“A gente tem uma vantagem competitiva de poder usar a logística da Vale, principalmente ferroviária, para alcançar mercados mais distantes e conseguir alocar esse volume que realmente é bem expressivo quando se fala em mercado de areia”, comentou à Reuters o CEO da Agera, Fábio Cerqueira.

Atualmente, a Agera conta com sete pontos de atendimento ao cliente e estoque de material em Minas Gerais e no Espírito Santo. Além de São Gonçalo do Rio Abaixo, a areia já é produzida em importantes Cidades e Minerais onde a empresa opera, como Itabira e Congonhas.

Tragédias da Vale com rejeitos

Não apenas o avanço da agenda ESG, mas a história recente da Vale justifica a criação da Agera. A mineradora protagonizou na década passada dois dos maiores crimes/ tragédias ambientais da história da humanidade. Em 2015, o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, de propriedade da subsidiária Samarco, matou 19 pessoas no distrito de Bento Rodrigues e contaminou com rejeitos a bacia do Rio Doce. Já em 2019, o rompimento da Barragem do Córrego da Mina do Feijão, em Brumadinho, matou 272 pessoas e contaminou com rejeitos a bacia do Rio Paraopeba.

Nos dois casos foram firmados acordos de reparação entre a mineradora e Justiça. A partir de então, a empresa desenvolve um plano de eliminar as barragens a montante, estruturas do tipo das barragens que se romperam. De 30 barragens previstas, 12 já foram eliminadas, desde 2019.

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