O Santuário do Caraça completou no último dia 23 de junho 250 anos. Localizado entre os municípios minerados de Catas Altas e Santa Bárbara, é um dos mais significativos marcos históricos de Minas Gerais e, desde essa sexta-feira (19), passou a ser mote de uma campanha para transformá-lo em Patrimônio Documental da Humanidade. O título é concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A campanha para que tal chancela seja alcançada é liderada pela Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas). Fundado em 1774 pelo Irmão Lourenço de Nossa Senhora, o Santuário do Caraça tornou-se um centro de peregrinação e espiritualidade, atraindo romeiros e visitantes de todo o Brasil e do mundo. Com sua arquitetura neogótica, a primeira do Brasil, e um complexo que inclui museu, biblioteca e pousada, é um testemunho vivo da fé e da cultura mineira.
O presidente do Conselho Empresarial de Cultura da ACMinas, Jorge Carlos Borges de Souza, explica que a candidatura se baseará em um dossiê com pesquisas documentais elaborado por historiadores: “Todo o trabalho será executado nas dependências do Caraça, em bibliotecas, arquivos, e em fontes de documentos externas, dentro e fora do estado. Entre as instituições de pesquisa, está o Arquivo Público Mineiro, na capital”.
Certa da relevância do equipamento cultural e atrativo turístico, a ACMInas acredita que a conquista do título é possível. “Encontramos, neste local, que recebeu a visita dos imperadores dom Pedro I (1798), em 1831, e dom Pedro II (1825-1891), em 1881, parte da história do país, natureza exuberante, arquitetura e biblioteca”. No seu passeio, dom Pedro II deixou registrado: “Só a visita ao Caraça vale a viagem a Minas”, diz Jorge Carlos.
Como forma de nortear o projeto, a ACMinas criou um grupo o Grupo de Trabalho do Caraça (GT do Caraça), nomeado pela presidência da entidade e formado por membros dos conselhos empresariais, especialistas técnicos e integrantes da Associação dos Ex-Alunos dos Lazaristas e Amigos do Caraça (Aealac).
A estratégia para deslanchar o projeto prevê duas frentes de trabalho, correndo de forma paralela, buscando recursos das leis de incentivo estadual e federal: “Faremos uma grande e profunda pesquisa sobre a história do Caraça, a cargo de especialistas, em arquivos mineiros e de outros estados, como o Rio de Janeiro (RJ), e produção de um filme”, revela o presidente do Conselho da ACMinas, lembrando que conta com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura.
A ACMinas também antecipou que as pesquisas históricas darão origem ao dossiê para sustentação do pedido de reconhecimento do Caraça pela Unesco, no programa Memórias do Mundo, e ao filme. “Adianto que não será um documentário sobre o Caraça, mas um filme mesmo, longa-metragem, com roteiro e elenco”, explica Jorge Carlos.
A expectativa da ACMinas é para que a chancela do Caraça como Patrimônio Documental da Humanidade beneficie também os municípios no entorno, como Catas Altas, Santa Bárbara, Barão de Cocais e Mariana, todos eles localizados em área de sacrifício da mineração e com grande acervo histórico para ser protegido. Outras informações sobre a inciativa no site da ACMinas.
250 anos do Santuário do Caraça
“Celebrar os 250 anos do Santuário do Caraça é celebrar a fé, a história e a cultura de um povo que encontrou aqui um refúgio espiritual e um centro de educação e acolhimento. É um momento de gratidão e renovação de nosso compromisso com a preservação deste patrimônio que é de todos nós. O lançamento dos logos comemorativos simboliza nossa dedicação em manter viva a memória e a missão do Santuário para as futuras gerações”.
O depoimento é do Padre Ramon Aurélio, Presidente da Comissão Organizadora das celebrações, durante o evento realizado no final do mês passado,, no qual foi lançado o logo oficial do Santuário do Caraça.
A história do Santuário remonta ao início do século XVIII, com registros de antigos garimpos e a fundação do Arraial do Inficionado do Caraça. O nome “Caraça” possui duas hipóteses de origem: uma relacionada ao formato de um rosto humano na Serra do Espinhaço e outra ao grande desfiladeiro existente na região. O Irmão Lourenço de Nossa Senhora, figura central na fundação do Santuário, dedicou sua vida à construção de um hospício e uma capela barroca, criando um centro de atração espiritual em meio ao tumulto minerador.
O complexo é tombado como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Estadual e foi escolhido como uma das Sete Maravilhas da Estrada Real. Conta com um amplo Conjunto Arquitetônico onde estão a primeira igreja de estilo neogótico do Brasil, o prédio do antigo Colégio (hoje Museu e Biblioteca), a pousada com 57 apartamentos e quartos, e a Fazenda do Engenho, com 26 apartamentos.
RPPN completou 30 anos em 2024
Criada em março de 1994, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Santuário do Caraça é uma Unidade de Conservação de âmbito federal que desempenha um papel crucial na preservação ambiental e na promoção de um turismo sustentável. A reserva é um campo de estudo aberto para pesquisadores e um exemplo de responsabilidade socioambiental.
O local possui enorme diversidade de fauna e flora, com raridades de animais e plantas no meio ambiente. Na ampla diversidade de sua fauna, há 386 espécies de aves, 42 espécies de répteis, 12 espécies de peixes e 76 espécies de mamíferos. A Reserva Particular do Patrimônio Natural do Santuário do Caraça faz parte de duas importantes reservas ecológicas, as Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço Sul e a da Mata Atlântica, onde há diversas espécies de flora e fauna, algumas encontradas somente no Complexo do Santuário do Caraça, que fica na transição entre Mata Atlântica e Cerrado.
Em suas serras há nascentes, ribeirões e lagos que possuem águas de coloração escura, que carreiam material orgânico em suspensão. Seu solo é rico em minérios, explorados nos séculos anteriores, e com grande concentração de quartzito ou rocha metamórfica. Desde 2011, passou a ser preservado contra exploração comercial.
O coordenador ambiental, Douglas Henrique, destaca a relevância da unidade de conservação: “A RPPN Santuário do Caraça, ao completar 30 anos, reafirma seu papel fundamental na conservação ambiental e na promoção de um turismo sustentável. A regulamentação e a organização do uso público têm permitido que o Caraça se mantenha preservado, oferecendo uma experiência única aos visitantes e servindo como um importante campo de estudo para pesquisadores. Nosso desafio é continuar dialogando com as comunidades do entorno e aprimorando a infraestrutura para garantir a preservação e a acessibilidade deste patrimônio natural”, pontua.
O território do Complexo do Caraça integra a Área de Proteção Ambiental ao Sul da Região Metropolitana de BH, onde começam duas grandes bacias hidrográficas, a do rio São Francisco e a do rio Doce, que abastecem aproximadamente 70% da população de Belo Horizonte e 50% da população de sua região metropolitana. As informações são do Agenda BH.
Cronologia do Santuário do Caraça
1774 – O português Carlos Mendonça Távora, conhecido como Irmão Lourenço de Nossa Senhora, funda o Caraça.
1819 – Morre Irmão Lourenço, que deixa, em testamento, as terras e a igreja para dom João VI, com o objetivo de ser construída uma escola no local.
1820 – Dom João VI faz a doação do Caraça aos padres lazaristas. Nesse ano, os padres Leandro e Viçoso fundam o colégio.
1831 – Dom Pedro I e a imperatriz dona Amélia visitam o Caraça, um dos primeiros colégios de Minas.
1842 – O colégio interrompe suas atividades, devido a problemas políticos envolvendo os padres na Revolução Liberal, e se transfere para Campina Verde, no Triângulo Mineiro.
1856 – Seminário de Mariana é transferido para o Caraça e o colégio é reaberto.
1881 – Dom Pedro II e a imperatriz dona Teresa Cristina visitam o Caraça.
1968 – Na madrugada de 28 de maio, o fogo destrói o edifício do colégio. Não houve vítimas. Dos 30 mil títulos da biblioteca, só se salvaram em torno de 15 mil.
1972 – O Caraça se torna hospedaria, mas sem deixar de ser uma casa religiosa.
Fonte: Estado de Minas
SERVIÇO
Santuário do Caraça
Local: Estrada do Caraça, Km 9 – Entre os municípios de Catas Altas e Santa Bárbara – CEP 35960-000
Fácil acesso pelas rodovias BR 381 e MG 436, além do da possibilidade de ir por trem (Estação Dois Irmãos – Barão de Cocais)
Taxa entrada:
R$ 30 (em dias de semana)
Finais de semana, feriados e datas comemorativas:
R$40 (por pessoa).
Idosos: 50% de desconto.
Moradores de Barão de Cocais, Catas Altas e Santa Bárbara possuem 50% de desconto.
Entrada gratuita na 1ª quarta-feira de cada mês para os moradores de Barão de Cocais, Catas Altas e Santa Bárbara.
Site com opções de hospedagens: www.santuariodocaraca.com.br
Reservas: centraldereservas@santuariodocaraca.com.br
Instagram: @santuariodocaraca @rppn_caraca
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