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Barragem de Mariana: BHP teria recebido alertas sobre riscos 6 anos antes do desastre, revelam documentos

Imagem: Agência Brasil - Julgamento no Tribunal Superior de Londres expõe falhas na gestão da barragem de Fundão, em Mariana, com relatórios apontando problemas desde 2009

 

Novos documentos apresentados ao Tribunal Superior de Londres revelam que a mineradora BHP Billiton, uma das controladoras da Samarco, teria sido alertada sobre problemas na barragem de Fundão, em Mariana (MG), pelo menos seis anos antes do rompimento que causou uma das maiores tragédias ambientais do Brasil, em novembro de 2015. Os primeiros sinais de defeitos na estrutura teriam sido identificados já em abril de 2009, apenas cinco meses após o início das operações.

O julgamento da empresa anglo-australiana tem como foco a responsabilidade da BHP no desastre, que deixou 19 mortos e impactou milhares de pessoas ao longo do Rio Doce. Representando cerca de 620 mil afetados, o escritório Pogust Goodhead apresentou depoimentos de especialistas em geotecnia, destacando uma série de falhas na gestão da barragem.

Relatórios apontaram “sinais de alarme precoce” desde 2008

De acordo com Andrew Fulton KC, advogado dos atingidos, documentos internos mostram que a BHP tinha conhecimento de problemas graves na barragem anos antes do desastre em Mariana. Um relatório de 2008 já teria dado um “sinal de alarme precoce”, enquanto outro, de 2009, mencionava “incidentes potencialmente graves” na estrutura. Em 2010, um novo documento alertava para a fragilidade do projeto de armazenamento de rejeitos.

Os problemas teriam se agravado devido à expansão da barragem para atender ao aumento da produção da Samarco, além de questões relacionadas à deposição de rejeitos provenientes da mina Alegria, operada pela Vale. Segundo os requerentes, a combinação desses fatores criou um cenário de risco iminente, ignorado pelas empresas responsáveis.

Entre 2009 e 2014, diversos incidentes graves foram registrados, incluindo rachaduras, vazamentos, falhas no sistema de drenagem e alterações estruturais que indicavam a instabilidade da barragem. Um dos momentos mais críticos ocorreu em 2014, quando um “movimento de inclinação” da estrutura foi classificado como um “grande sinal de alerta”.

Fulton destacou que, apesar das evidências, as medidas de emergência adotadas pela Samarco foram insuficientes. “Todas as informações estavam lá e simplesmente não foram aplicadas”, afirmou o advogado, reforçando a tese de que o desastre poderia ter sido evitado.

Defesa da BHP nega responsabilidade e afirma que barragem era considerada segura

A defesa da BHP, liderada pelo advogado Daniel Toledano, argumentou que nenhum relatório técnico da época indicou a necessidade de desativar a barragem em Mariana. A empresa reconheceu que houve problemas relacionados à elevação da estrutura sobre camadas instáveis de lama, mas afirmou que as causas do colapso são complexas e exigem uma análise mais detalhada.

“Eles foram repetidamente assegurados por engenheiros e especialistas, incluindo especialistas independentes internacionalmente reconhecidos, de que a barragem estava sendo bem gerenciada, segura e estável”, disse a empresa.

Julgamento da barragem de Mariana deve continuar até quarta-feira (29)

O julgamento no Tribunal Superior de Londres segue até a próxima quarta-feira (29), com a apresentação de mais depoimentos e documentos que podem esclarecer as responsabilidades pelo desastre em Mariana. Enquanto isso, as vítimas e comunidades afetadas aguardam justiça e reparação, em um caso que continua a gerar repercussões quase uma década após a tragédia.

A tragédia de Mariana não apenas expôs falhas na gestão de barragens, mas também levantou questões sobre a responsabilidade corporativa e a necessidade de maior rigor na fiscalização de grandes empreendimentos minerários. O desastre serve como um alerta para que tragédias semelhantes não se repitam no futuro.

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