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Hidrogênio Verde: o Brasil na rota do combustível sustentável

Imagem: Camila Cunha

 

A União Europeia confirmou, na última semana, altíssimo investimento no Brasil, no estado do Piauí, para produção do hidrogênio verde. Trata-se do maior investimento do mundo em produção de combustível proveniente de energia renovável, já contando com a licença ambiental aprovada.

O projeto – um dos maiores do mundo – tem capacidade de produção de mais de 4 mil toneladas por dia (produção de 10gw), com investimento de R$ 100 bilhões nos próximos cinco anos.

Com todos os estratosféricos números e a instalação de uma unidade de produção de hidrogênio verde e amônia verde, na zona de processamento de exportação de Parnaíba, litoral do Piauí, o Brasil se agiganta numa área essencial ao desenvolvimento para o futuro – devendo ser, necessariamente, sustentável, também, para a sociedade brasileira.

A operação será feita pela empresa europeia Green Energy Park (GEP) – usina Green Energy Park Piauí, com obras iniciando em 2024 e operações em dois anos, após. Está instalada próximo ao porto de Luís Correia, no litoral do estado, para abastecimento da Europa, pelo Porto KRK, na Croácia.

O projeto conta com o aporte de 2 bilhões de euros da Global Gateway, que direciona investimentos da União Europeia em projetos de infraestruturas ao redor do mundo, visando, entre outros objetivos, a garantia de suprimento energético para o continente europeu, oficialmente, através de ligações sustentáveis e de confiança, em benefício das pessoas e do planeta; A ideia é enfrentar os desafios globais mais prementes, desde a luta contra as alterações climáticas à melhoria dos sistemas de saúde e ao reforço da competitividade e da segurança das cadeias de abastecimento mundiais

Mas o que é o hidrogênio verde, afinal?

O hidrogênio é o elemento químico mais abundante do universo e existem diversas formas de produzi-lo (separação das moléculas e ajuste de composições químicas), com mais ou menos eficiência, dependendo do método, com mais ou menos agentes poluentes, também dependendo do método, chegando-se a combustíveis livres de carbono – o verde!

O hidrogênio verde (H2V) é produzido a partir da eletrólise (dois eletrodos ligados a uma fonte de energia são inseridos em um recipiente com água; as barras têm polaridades diferentes e a energia que passa por elas separa o hidrogênio que está na água), sendo que a energia inicial para a realização deste processo vem, necessariamente, de fontes renováveis, resultando em uma produção sem a emissão de carbono.

As condições climáticas do brasil, especialmente do nordeste brasileiro, tornam o país um promissor produtor dessa commodity: a produção se dará a partir de energia eólica e solar, abundantes nessas terras nacionais.

O hidrogênio verde pode ser usado em uma enorme e significativa (do ponto de vista econômico) variedade de aplicações, incluindo transporte, indústria e a própria geração de outras formas de energia.

E a mineração nisso tudo?

Evidentemente, a mineração está presente, desde a extração dos minerais próprios para a produção da energia originária (placas para produção de energia solar, baterias para as turbinas de energia eólica etc.).

Já muito temos falado sobre essa presença essencial da mineração na vida em sociedade, na evolução tecnológica, nas responsabilidades sobre os compromissos de condutas para atingimento de um desenvolvimento efetivamente sustentável. Mas o hidrogênio verde também deverá fazer papel essencial, na mineração, com foco específico na redução da emissão dos gases de efeito estufa.

O altíssimo consumo de combustíveis fósseis, diesel e gasolina, tem levado o mundo às buscas por alternativas energéticas renováveis, com redução do impacto ambiental, num processo de descarbonização. As pesquisas apontam um caminho de melhor desempenho dos motores, com a adição do hidrogênio aos combustíveis convencionais

A indústria de mineração consome grandes quantidades de energia, por meio de essenciais atividades de mineração primária, incluindo as de exploração, extração, transporte e processamento.

A mineração brasileira é um segmento de grande relevância para a nossa economia, representando 5% do Produto Interno Bruto (PIB), ocupando o minério de ferro a terceira posição dentre os produtos mais exportados pelo Brasil, nos últimos anos. Neste contexto, evidente que a transição energética é preocupação do setor, com importantes metas de redução de emissão de gases de efeito estufa, tornando, assim, o hidrogênio verde uma alternativa de relevante importância para a solução dos problemas enfrentados para a consecução destes objetivos.

O mercado aponta para as possibilidades de significativas parcerias entre os setores de mineração e de produção de energia renovável, vislumbrando-se novos modelos de negócios para o atendimento das demandas destes e de vários outros setores da economia, em todo o mundo. Com tais perspectivas, é possível se planejarem projetos de aumento da competitividade, orientados pela sustentabilidade.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a bolsa de valores exigirá, a partir de 2024/2025, incorporação de parâmetros ambientais sociais e de governança ESG (Environment, Social & Governance) para financiamento de atividades de mineração. Neste contexto, espera-se que o hidrogênio usado possa atender às crescentes demandas do setor e, ao mesmo tempo, contribuir para as metas de redução da emissão de CO2.

Há desafios para a obtenção de matéria-prima (Hidrogênio) para equipamentos, armazenamento e transporte dessa energia: ainda segundo o Ipea, os carros elétricos usam seis vezes mais metais que os carros convencionais e as turbinas eólicas usam nove vezes mais metais que uma planta convencional de geração de gás. Os caminhões de transporte das mineradoras são responsáveis por quase 50% das emissões diretas de CO2 pelas companhias, resultando que este setor da economia seja responsável por 5% a 7% das emissões desses gases. E a substituição desses equipamentos impactará nos custos de produção e nos seus resultados finais.

“A geração de energia elétrica nas próprias minas, por meio de fontes de energia renovável e produção de H2v, também é possível, utilizando-o como combustível nos veículos (power-to-mobility). Desta forma, as minas seriam autossuficientes energeticamente e evitariam a necessidade de transporte de diesel para regiões isoladas”, resume o (Ipea).

Embora o hidrogênio verde seja considerado uma forma promissora de combustível limpo e sustentável, existem desafios e riscos associados à sua produção, armazenamento e utilização: são altos custos, avaliação ainda insuficiente do ciclo de produção, dificuldades de armazenamento e transporte e a substituição dos equipamentos que atualmente atendem os setores da economia e a sociedade estão dentre as dificuldades a serem superadas.

É revelador entender o quanto a transição energética impactará toda a economia, e, consequentemente, a vida em sociedade. A discussão sobre novas fontes de energia tem tido apenas dois focos de visão: a tecnologia e a economia. Assim, toda a logística e estratégia de adoção de medidas para o desenvolvimento das novas produções, incluindo o hidrogênio verde, têm sido pautadas na lucratividade, nos investimentos financeiros.

É preciso que se atente para os problemas causados ao ambiente e à sociedade, mais ainda no brasil, novamente encarado como fornecedor desses commodities: premente a adoção de planejamento, criando-se cidades sustentáveis, solucionando os problemas de mobilidade urbana, adoecimento das comunidades de algum modo impactadas, promovendo-se o reequilíbrio das relações dos stakeholders envolvidos, e destes com a natureza,  com vistas a se ultrapassar a exclusiva lógica economia-tecnologia, diversificando-se o modelo de produção para a qualificação das pessoas, proteção do meio ambiente e proteção da sociedade envolvida, objetivando-se, efetivamente, as metas e objetivos do desenvolvimento sustentável da agenda 2030.

Marcia e Marian corte
Márcia Itaborahy e Mariana Santos

MM Advocacia Minerária

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