Início Especial Série Transformação: a implantação da Avenida Mauro Ribeiro Lage em Itabira

Série Transformação: a implantação da Avenida Mauro Ribeiro Lage em Itabira

Foto: Ronan Fabrício/ ItaDrone - Fruto de negociação complexa com a Vale, via inaugurada em 2005 representou uma mudança importante no cenário urbano, facilitando a mobilidade e atraindo investimentos

 

Há 19 anos, os itabiranos viam surgir no meio da cidade uma ampla e promissora avenida: a Mauro Ribeiro Lage. A transformação gerada pela nova via pública é tema da série de reportagens que o CidadesMineradoras.com.br apresenta a partir de agora.

Ao longo de décadas, o perímetro onde está construída a Avenida Mauro Ribeiro Lage foi utilizado pela Vale como parte da malha ferroviária do município, dedicada à estação e ao trem de passageiros. Para a cidade, a linha férrea instalada antes de a avenida existir sempre foi considerada um gargalo, pois separava Itabira em duas partes, dificultando a conexão entre regiões que cresciam sem coordenação.

Ao assumir a Prefeitura de Itabira, em 2001, com apenas 10 dias de gestão, o então prefeito Ronaldo Magalhães determinou que fosse iniciada uma negociação com a mineradora para a retirada dos trilhos que dividiam a cidade. Conforme reportagem publicada em dezembro de 2004 pelo jornal Vale Notícias, “a condicionante 44 da Licença de Operação (LOC) da mineradora no município, impunha que a empresa fizesse um estudo de viabilidade para a mudança da localização da estação ferroviária”.

A partir dessa informação, o secretário Municipal de Obras à época, Emerson Barbosa – o conhecido Gui, atualmente proprietário da MD Predial e de outros empreendimentos – iniciou o longo processo de execução do projeto que, até então, não estava no Plano de Governo.

Ainda conforme a reportagem publicada pelo Vale Notícias, a mineradora fez muito mais do que liberar a pera ferroviária para a abertura da avenida: ela doou ao município o terreno para a sua construção, junto com as áreas remanescentes da ferrovia. Porém, o processo de convencimento da diretoria da Vale para que a doação ocorresse não foi tão fácil quanto a empresa fez parecer à época.

Uma reportagem da Revista DeFato, assinada pelo jornalista Sérgio Santigo e publicada em 2016, traz um depoimento do então secretário de Obras relembrando que foi necessária uma boa quantidade de viagens, reuniões, telefonemas e ofícios para conseguir a liberação da construção da nova avenida. Foram precisos três anos para organizar a papelada e acertar a doação da área, e apenas um ano para construir e inaugurar a obra, segundo a publicação.

“A equipe municipal precisou convencer a diretoria da mineradora, sobretudo o diretor financeiro Fábio Barbosa, de que o projeto, embora oneroso, era importante para a cidade. Numa dessas conversas, ficou acertado que o diretor iria analisar o projeto in loco. No dia da visita ele e sua comitiva desembarcaram próximo à sede da Aposvale e entraram no mato até os trilhos, onde o croqui foi aberto. Convencido, o representante da Vale disse que vestiria a camisa do projeto a partir dali”, disse o então secretário à reportagem.

O Vale Notícias também registrou o depoimento do prefeito Ronaldo Magalhães na solenidade de inauguração da Mauro Ribeiro Lage, em 2004. “Foi um ganho a mais que Itabira obteve pelo relacionamento respeitoso entre a Prefeitura e a direção da empresa. No meu governo, em nenhum momento, faltou diálogo com a Vale”, discursou o político.

O início da transformação

A Prefeitura de Itabira conseguiu, além de negociar a retirada dos trilhos que separavam a cidade, os terrenos remanescentes da linha para serem transformados em lotes comerciais. O presidente da Vale no período, Roger Agnelli, teve papel crucial para que a execução do projeto fosse bem-sucedida.

“O apoio incondicional do presidente da Vale, na época, foi de suma importância. Um executivo formidável que muito teve a contribuir”, enfatizou o então secretário de Obras, Emerson Barbosa.

A oficialização dessa parceria entre Prefeitura e Vale ocorreu por meio da assinatura de um convênio, pelo próprio Agnelli, em 9 de julho de 2003, numa visita a Itabira. Em seu discurso, afirmou que a doação foi mais uma demonstração de respeito e cooperação com a cidade, independentemente de qualquer obrigação inserida em condicionante.

“A Vale sempre contribuiu e continuará contribuindo com o desenvolvimento de Itabira. A doação é mais uma prova da importância do município e de sua comunidade para a empresa”, disse o então presidente da Vale. O registro histórico foi feito pelo jornalista Carlos Cruz, no Vale Notícias, durante a solenidade de assinatura do convênio.

bruno rodrigues Mauro Ribeiro
Foto: Bruno Rodrigues – Antes da construção da nova avenida, região estava degradada e sem boas perspectivas de evoluir

 Quem foi Mauro Ribeiro Lage?

A escolha do nome da nova via pública foi feita pelo secretário Municipal de Obras, Emerson Barbosa. Ele justificou afirmando que considerava Mauro Ribeiro Lage um “padrinho da avenida”, bem como um exemplo de dedicação ao crescimento econômico do município, já que o empresário construiu seu patrimônio a partir da mineração de esmeraldas, no município.

Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal – Mauro Ribeiro Lage foi o empreendedor que dá nome à avenida

Nascido em 1929, na fazenda Belmont, a 15 quilômetros do centro de Itabira, Mauro era o quarto de cinco filhos. Ainda na adolescência, dedicava-se aos ofícios do campo e ajudava o pai a carregar com lenha as locomotivas da extinta Companhia Vale do Rio Doce.

Aos 18 anos, tornou-se motorista de caminhão e seguiu na profissão durante muitos anos. Em 1960, começou a empreender. Ao lado de dois sócios, iniciou a exploração de uma mina de ferro em Nova Era que, pouco tempo depois, foi vendida para a Vale. A partir daí, o ex-caminhoneiro passou a administrar sua própria frota de caminhões. Surgia, em 1969, a transportes Belmont, primeira empresa do grupo que, mais tarde, se tornaria um dos maiores de Itabira.

Herdeiro da propriedade dos pais, Mauro Ribeiro nunca deixou de trabalhar em suas terras. Em 1970, ao construir uma represa para criar um novo ponto de pastagem, notou pedras verdes no sangradouro do lago. Ele descobria assim, que seu terreno tinha uma jazida de esmeraldas.

Foto: Belmont/ Divulgação – Grupo Belmont foi pioneiro na mineração de esmeraldas em Itabira

Oito anos depois, de muitos percalços superados pelo caminho, ele fundava a Belmont Mineração. Mauro Ribeiro faleceu em 2001, depois de dois anos de luta contra um câncer. As pedras extraídas em Itabira estão espalhadas pelo Brasil, China, Estados Unidos, Índia, Israel, Tailândia, Japão e vários países europeus. O Grupo Belmont se expandiu para a agroindústria, construção civil e ao ramo imobiliário. Hoje, o legado e patrimônio são geridos por filhos e netos.

 

Na próxima reportagem da Série “Transformação”, o CidadesMineradoras.com.br mostrará como a Avenida Mauro Ribeiro Lage conectou a cidade e se transformou em um importante polo de negócios. Não perca!

Sair da versão mobile