As ações da Vale (VALE3) em 2024 acumulam sucessivas desvalorizações em 2024. Apenas o pregão de 11 de janeiro registrou valorização, quando os papéis terminaram o dia em alta de 0,53%. Nas demais sessões, houve perdas para os investidores.
Conforme apuração do Estadão e|Investidor, no acumulado em 2024, os ativos cedem 11,8%, aos R$ 68,10, depois de fecharem 2023 com a maior queda em oito anos. O resultado foi severamente influenciado pela atividade econômica da China. Na última terça-feira (16), a potência asiática anunciou que seu Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 5,2% no ano passado – percentual levemente abaixo das expectativas de mercado. Eram esperados 5,3% de crescimento, o que já representaria um desempenho bastante inferior ao período anterior à pandemia.
Outros fatores, como a retração do mercado imobiliário, dificultam o crescimento da China e impactam outros setores. Porém, o fato mais preocupante é a baixa expectativa de demanda por minério de ferro.
Ainda conforme apurado pelo Estadão, a China, como um dos principais mercados consumidores de minério de ferro do mundo, representa uma fatia de 47.9% das receitas da Vale. Com a diminuição da demanda no gigante asiático, o preço do minério de ferro caiu 6% somente neste mês de janeiro, impactando fortemente o lucro dos acionistas da mineradora.
Expectativas otimistas para as ações da Vale
Analistas da Genial têm avaliação positiva das ações da empresa em 2024, apesar das sucessivas quedas recentes, pois elas refletem uma expectativa futura sobre a demanda por minério de ferro, e não a demanda vigente real – que na visão dele, tende a ser melhor em 2024 do que foi no ano passado. Guedes, analista da Genial, estima um preço-alvo de R$ R$ 82,50, ou seja, um potencial de alta de mais de 20% no ano.
Ele também espera resultados bem melhores para a siderurgia do que os registrados em 2023. “Se estivermos certos, Isso ajudará na retomada de um otimismo parcial com a China e, portanto, diminuirá as incertezas para a Vale. Ainda assim, salientamos que a paciência do investidor deve ser testada. A China passa por um movimento macro diferente do passado e leva-se um tempo para as coisas se ajustarem”, afirmou ao Estadão.
O especialista da Genial acredita que parte das quedas nos preços do minério de ferro podem ser um movimento natural de correção, pois a cotação do insumo subiu quase 20% entre novembro e dezembro do ano passado, quando o governo chinês anunciou um novo programa de habitação popular.
“Diante das animações com o novo programa, o preço do minério subiu além do patamar que acreditamos que formaria o equilíbrio de oferta e demanda perante a economia real”, diz Gudes, que projeta o minério de ferro com um preço de equilíbrio de US$ 115, complementou.
Outro analista ouvido pelo Estadão a recomendar a compra dos papéis da mineradora foi Fernando Ferrer, da Empiricus Research. Ele destacou o preço-alvo de R$ 95 (potencial de alta de 40%). O especialista reconheceu as várias incertezas que envolvem a mineração e a siderurgia em 2024, especialmente quanto à demanda chinesa por minério, mas vê os papéis da Vale e da Gerdau (GGBR4) excessivamente penalizados.
“A verdade é que essas empresas devem pagar um dividend yield (DY, rendimento em dividendos) próximo a 10% nesse ano e estão desalavancadas. Acredito que estamos em um pico de pessimismo”, afirma Ferrer. “Mas ainda gosta de ambos os papéis”, afirmou.
Visões pessimistas sobre os papéis da mineradora
Já Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, disse ao Estadão que vê um 2024 desafiador para os papéis da Vale e não possui recomendação para a companhia: “Nosso cenário base não é de recuperação ao longo do ano, mantidas as conjectura macro e micro atual”.
A falta de visibilidade sobre o desempenho do setor de mineração e siderurgia causa preocupação, segundo ele, pela esperada desaceleração econômica global e o desenrolar de tensões geopolíticas. “O crescimento da economia real está muito relacionada com investimentos (produção e infraestrutura) e consumo. Em ambientes de falta de visibilidade, é de se esperar que haja mais cautela”, afirmou.
Outro analista, João Lucas Tonello, da Benndorf Research, na ponta vendida, com preço-alvo de R$ 66,33, reafirma o cenário de incertezas para a Vale. “A China reportou uma desaceleração no setor imobiliário. Com isso, não há força para a recuperação da demanda por minério, indispensável para a Vale voltar a valorizar”, diz. “Se em 2024, continuarmos a ver uma China fraca, não haverá aceleração (dos preços das ações).”
Ele explicou ao Estadão que, partindo de uma análise técnica, só reavaliará sua posição vendida caso as ações passem a fechar consistentemente acima do patamar de R$ 72,52.
Por fim, o head de renda variável e sócio da A7 Capital, Andre Fernandes, sintetizou ao Estadão a dualidade do mercado em relação às recomendações para a Vale e para o segmento de mineração e siderurgia, como um todo.
“O mercado está tendo dificuldade em acertar uma recuperação na economia chinesa, com conglomerados financeiros e imobiliários passando dificuldades para lidar com suas dívidas”, afirma Fernandes. “É uma incógnita traçar um cenário mais preciso para o setor, com isso os investidores que se expõe ao segmento, acabam dando preferência para a Vale, por ser uma das líderes mundiais e gerar um fluxo de caixa robusto, agregando valor ao investidor.”