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ODS ZERO – o progresso tem limites?

 

Temos desenvolvido, aqui, artigos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS e a meta é tratá-los de forma individual e aprofundada, para disseminar seu conhecimento, mas também integral e ampliada, porque não são dissociados, tampouco são conceitos apenas: são mesmo objetivos integrativos, umbilicalmente interligados e essenciais à sobrevivência do Homem neste planeta.

Porém, a par dos já existentes Objetivos, surge um conceito básico, prévio como conceito: o ODS ZERO. E ele surge como a necessidade de uma nova lente para observar a Agenda 2030, em um mundo marcado por crises climáticas, desigualdades sociais profundas e transformações tecnológicas aceleradas.

Embora não oficial, este conceito pretende a busca um ponto de partida essencial que transcenda as metas já estabelecidas, propondo uma reflexão sobre os fundamentos que sustentam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O ODS ZERO é o despertar de uma consciência coletiva que coloca no centro a dignidade humana, a harmonia ambiental e o fortalecimento das relações sociais.

O ODS ZERO desafia o paradigma individualista que permeia nossas estruturas econômicas e sociais. Ele se fundamenta na compreensão de que todos os ecossistemas — sociais, ambientais e econômicos — são interdependentes. Esta abordagem reflete a teoria de que sistemas vivos funcionam de maneira cooperativa e não competitiva, uma ideia defendida por pensadores como Fritjof Capra e E. O. Wilson.

Em vez de perpetuar o modelo “winner takes all”, o ODS ZERO propõe uma nova narrativa: o êxito não é alcançado às custas do outro, mas através da colaboração e do bem comum.

Na prática, este conceito nos convida a reavaliar nossas ações, nossas intenções e nossas posições no conjunto social. Como destacado por Marco Gorini, o ODS ZERO é um chamamento ao discernimento, um retorno às escolhas conscientes que consideram os impactos a longo prazo de nossas decisões cotidianas. Ele envolve não somente os governos ou as grandes corporações, mas cada indivíduo, em um movimento que reconecta a racionalidade à empatia, a cabeça ao coração.

Para Gorini, o maior desafio do século 21 é fazer cumprir os direitos humanos de 10 bilhões de pessoas, garantindo um ambiente seguro, digno e justo para toda a humanidade e, ao mesmo tempo, proteger os sistemas planetários que sustentam a vida, viabilizando uma economia regenerativa e distributiva. A proposta para o enfrentamento global desse desafio está expressa na Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e no Acordo de Paris, entre outros.

A urgência desse despertar se reflete em fenômenos globais como a pandemia de solidão, um problema crescente que evidencia a fragilidade de nossas conexões sociais em um mundo dominado por relações transacionais.

Igualmente se reflete nos cada vez mais expressivos e preocupantes acidentes climáticos. De fato, a crise climática antecipa todos os meios e procedimentos a serem implementados para a sobrevivência do ecossistema terrestre.

A Era da Relevância, como alguns pensadores modernos chamam o momento atual, exige que questionemos os alicerces de nossas sociedades.

O modelo econômico baseado no extrativismo, por exemplo, é uma herança de um pensamento antropocêntrico que transformou a natureza em mercadoria. Como bem destacou o filósofo Chuang Tse, a desarmonia surge quando governamos o mundo à força, ignorando as leis naturais que sustentam a vida. A exploração desenfreada dos recursos naturais é um reflexo desse paradigma, e o ODS ZERO propõe uma mudança radical: tratar a Terra como um organismo vivo, do qual fazemos parte e ao qual devemos respeito e cuidado.

Na economia global, o ODS ZERO apresenta um desafio e uma oportunidade. Ele clama por uma transição que integre os avanços tecnológicos à justiça social e à sustentabilidade. No Brasil, essa ideia pode transformar setores como o agronegócio e a mineração, incentivando práticas regenerativas que conciliem eficiência e preservação. Globalmente, há exemplos que apontam para essa direção, como as iniciativas de capital natural que mensuram o valor econômico de ecossistemas intactos, incentivando sua conservação.

O ODS ZERO também traz à tona a questão da liderança consciente. O movimento do Capitalismo Consciente destaca que a evolução das lideranças é essencial para transformar organizações em agentes de impacto positivo. Essa transformação exige que as lideranças transcendam interesses individuais e reconheçam sua responsabilidade perante o coletivo. Um exemplo prático é a incorporação de indicadores de impacto socioambiental nas estratégias empresariais, especialmente, na Mineração, um movimento que está ganhando força em empresas globais e também no Brasil.

A implementação do ODS ZERO demanda um esforço coletivo e intersetorial, mas também exige algo mais profundo: uma mudança de consciência.

Aristóteles dizia que um bom começo é a metade do caminho, e o ODS ZERO é exatamente isso: o ponto de partida para uma transformação que redefine o que significa prosperar. Ele nos lembra que não podemos prosperar individualmente em um mundo que falha coletivamente. Esta é a semente de uma nova era, que se enraíza na cooperação e floresce na justiça.

A construção desse futuro exige coragem para desafiar paradigmas e humildade para reconhecer que fazemos parte de algo maior. O ODS ZERO é um convite à reflexão, à ação e, acima de tudo, à responsabilidade. Ele nos chama a transformar nossas relações com o próximo e com o planeta, em uma jornada que é tanto pessoal quanto coletiva. O futuro da humanidade depende de como respondemos a este chamado. A escolha está em cada uma de nossas mãos.

Mariana Santos e Márcia Itaborahy
Mariana Santos e Márcia Itaborahy

MM Advocacia Minerária

 

 

 

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