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Exposibram 2024: reflexões sobre a mineração e o caminho para um futuro sustentável

Imagem: Camila Cunha

 

A Exposibram 2024 chegou ao fim, mas deixou marcas profundas no setor minerário. Mais do que um evento de inovação tecnológica, foi um momento crucial para refletir sobre o papel transformador – e ao mesmo tempo, desafiador – da mineração em um mundo que exige cada vez mais compromisso com o desenvolvimento sustentável. A cada edição, a Exposibram atrai as maiores lideranças do setor para discutir não apenas os avanços tecnológicos, mas também os dilemas éticos, sociais e ambientais que acompanham essa atividade fundamental para a economia global.

Em 2024, realizada em Belo Horizonte, a Exposibram nos colocou frente a frente com questões que transcendem o debate sobre eficiência produtiva: tratam de como a mineração pode realmente promover a inclusão social e mitigar os danos ambientais que marcam sua trajetória. Um olhar mais crítico sobre o futuro do setor revela um dilema que já não pode mais ser ignorado: como garantir que a mineração, ao fomentar o crescimento econômico, não perpetue a dependência econômica e social de regiões inteiras?

Essa questão é central, pois muitas cidades e municípios que recebem grandes empreendimentos minerários vivem uma aparente prosperidade que pode, na verdade, esconder uma fragilidade sistêmica. O crescimento rápido e desordenado, baseado quase exclusivamente na extração de recursos finitos, pode resultar em crises profundas no momento em que esses recursos se esgotarem. E é aqui que, do nosso ponto de vista, surge uma das reflexões mais urgentes: a necessidade de um planejamento econômico e social que transcenda a mineração.

Frequentemente, vemos municípios mineradores experimentando um “boom” econômico com a chegada de grandes projetos de mineração. O emprego cresce, a infraestrutura local melhora e há uma sensação imediata de progresso. Contudo, essa prosperidade é muitas vezes superficial, pois ignora a dependência que se forma em torno da extração mineral. Quando a atividade mineradora chega ao fim, o que sobra para essas comunidades?

Sem uma diversificação econômica bem planejada, a saída da mineração pode criar uma lacuna que poucos municípios estão preparados para preencher. Essa dependência excessiva é perigosa, e os riscos são amplamente conhecidos. A falta de um plano alternativo pode resultar em recessões locais, aumento da pobreza e desigualdade social.

A Exposibram 2024 nos lembrou da importância de tratar o crescimento econômico como uma oportunidade de repensar o futuro dessas regiões. O setor não pode continuar sendo apenas uma força exploratória. Ele precisa ser um motor de transformação que prepare as comunidades para um futuro sem dependência exclusiva da mineração.

Olhando para o futuro, a diversificação econômica surge como um dos pilares centrais. Não se trata apenas de uma necessidade para o crescimento, mas de uma questão de sobrevivência. A mineração, com sua capacidade de atrair grandes investimentos, pode e deve ser um catalisador de crescimento em outras áreas, como agricultura sustentável, turismo ecológico e tecnologias de ponta. O setor tem a responsabilidade de liderar, não só em termos de extração mineral, mas também em inovação e sustentabilidade.

Para isso, a reestruturação produtiva precisa ser colocada no centro do debate. E esse planejamento deve ser iniciado desde o começo dos projetos minerários. Esperar até que os recursos comecem a escassear é um erro estratégico que gera danos socioeconômicos irreversíveis. A mineração deve ser vista como um ponto de partida para o desenvolvimento, e não como o fim em si.

Outro ponto crucial é a união entre os municípios mineradores. Sozinhos, muitos deles não têm força para negociar as melhores condições ou para garantir que os benefícios da mineração sejam distribuídos de forma equitativa. Mas ao se unirem, esses municípios ganham poder de barganha e podem compartilhar infraestrutura, conhecimento e soluções inovadoras para enfrentar os desafios comuns. A criação de consórcios regionais fortalece as cidades mineradoras, permitindo que elas enfrentem coletivamente os problemas que surgem, especialmente em um cenário pós-mineração.

Além da questão econômica, a mineração está profundamente conectada ao debate sobre sustentabilidade ambiental. Com o aumento da demanda por minerais estratégicos, como lítio e níquel, fundamentais para a transição energética global, o setor minerário ocupa uma posição central. No entanto, essa transição precisa ser acompanhada de um compromisso sério com a redução dos impactos ambientais. A sociedade exige das mineradoras uma responsabilidade socioambiental qualificada, que não se limite a cumprir requisitos mínimos, mas que realmente promova a recuperação ambiental e a proteção dos ecossistemas.

As práticas sustentáveis devem ir além de medidas compensatórias. O setor deve adotar uma postura ativa na proteção dos recursos naturais, investindo em tecnologias limpas, no uso consciente da água e na recuperação de áreas degradadas. Mais do que uma necessidade de mercado, a sustentabilidade ambiental é um imperativo ético. O futuro da mineração depende de sua capacidade de se alinhar a essas demandas globais e agir como uma força de preservação, e não apenas de exploração.

As inovações tecnológicas são outro ponto de grande potencial transformador. Automação, inteligência artificial e tecnologias de geoinformação estão revolucionando as operações minerárias, tornando-as mais seguras e eficientes. Contudo, o verdadeiro impacto dessas inovações será medido pela sua capacidade de promover responsabilidade social. Não basta que essas tecnologias aumentem a produtividade — elas precisam gerar valor para as comunidades onde a mineração acontece.

A tecnologia deve servir para melhorar as condições de vida, capacitar a mão de obra local e reduzir as desigualdades sociais. O setor tem o poder de se tornar um agente de inclusão, e não de exclusão. A inovação deve ser usada como uma ferramenta para impulsionar o desenvolvimento humano nas regiões mineradoras, assegurando que os benefícios cheguem a todos, e não apenas às grandes corporações.

As práticas ESG (Environmental, Social, and Governance) são cada vez mais essenciais para a sustentabilidade do setor minerário. Elas não podem ser tratadas como um complemento ou uma estratégia de marketing, mas como um compromisso profundo e permanente. A confiança da sociedade no setor depende da forma como as empresas adotam governança transparente, proteção ambiental e inclusão social em suas operações.

A adoção de práticas ESG eficazes não deve ser vista apenas como uma resposta a demandas externas, mas como uma visão interna de longo prazo. As mineradoras que liderarem esse movimento estarão mais preparadas para enfrentar os desafios globais e construir um modelo de desenvolvimento que seja realmente sustentável, inclusivo e responsável.

A Exposibram 2025

Olhando para o futuro, a Exposibram 2025, que será realizada em Salvador-BA, será mais uma oportunidade de fortalecer esses debates. O evento tem o potencial de se tornar um marco nas discussões sobre inovação, sustentabilidade e inclusão, não apenas no Brasil, mas em todo o setor global de mineração.

O setor minerário tem diante de si a oportunidade única de liderar uma nova era de desenvolvimento econômico, que seja justa, sustentável e alinhada às exigências de um mundo em transformação. A pergunta que fica é: estamos prontos para moldar esse futuro de forma responsável e inclusiva?

Mariana Santos e Márcia Itaborahy
Mariana Santos e Márcia Itaborahy

MM Advocacia Minerária

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