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História da mineração de ferro em Minas Gerais

Divulgação

REINVENÇÃO ITABIRANA

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 COMO TUDO COMEÇOU

— Vamos iniciar esta série por Itabira, o berço da mineração de ferro em larga escala. Os portugueses Padre Manoel do Rosário e João Ferreira Ramos reúnem-se no bairro Penha para proclamar a arrancada do povoado de Itabira do Mato Dentro, enquanto um dos Albernaz desce a Serra Cabeça de Boi na visão de um pico recheado de ferro e ouro. O fato ocorre entre o fim do século XVII e princípio do XVIII. Não era prevista uma riqueza imensa, mas a existência do ouro de aluvião já  atraía milhares de pessoas ao local em que nasce uma vila próspera.

NOSSO CAUÊ É SUECO?

— Em 1910, em Estocolmo, na Suécia, nação escandinava, distante 11.244 quilômetros de Itabira, é anunciado, num Congresso Internacional de Mineração, que no Brasil há uma riqueza incomparável e para ela convergem gananciosos por dinheiro, poder e riqueza. Imediatamente, o americano Percival Facquar, seguido por ingleses, na terra chegam e começam a comprar glebas por preços, mesmo acima dos valores, bem abaixo da fortuna que valem. O primeiro lote de patrimônio vendido é o Cauê, justamente o grande troféu erguido no pódio de Estocolmo. O itabirano dorme  feliz da vida  como  um  autêntico e cruel bobo-alegre, mais conhecido como “tatu de madrugada”. Parece incrível, a hematita  brilhava acima de nós, mas foi somente em Estocolmo que a perceberam. Dá pena!

“OS INGLESES COMPRAM A MINA”

— Com a ideia fixa no ouro e ainda duvidando do valor do minério de ferro, os ingleses fazem-se de distraídos (ou são mesmo sonolentos, ou jecas-tatus?), arrancam o ouro de graça e exploram a mão de obra escrava. Mrs. tal e tal, Robinson e outros, montam mansões na Vila Conceição, distraem os brasileiros até com bichos de pés, e levam  a dinheirama para a Itabira Iron Co. e os outros espertalhões como sempre os há até hoje.

“Cada um de nós tem seu

Pedaço no Pico do Cauê.

Na cidade toda de ferro

as ferraduras batem como sinos.

Os meninos seguem para a escola.

Os homens olham para o chão.

Os ingleses compram a mina.

Só, na porta da venda, Tutu Caramujo

cisma na derrota incomparável”.

(Drummond, Alguma Poesia, 1930)

AS FORJAS DE FERRO

— Sem ouro para explorar, ou vendo o de aluvião escassear-se, alguns mais sabudos ou menos jecas, partem para criar seus negócios particulares, as forjas de ferro, que fabricam ferramentas de todos os tipos, incluindo espingardas, facões, enxadas, picaretas e até apetrechos domésticos. Itabira do Mato Dentro chega a ter 14 forjas que movimentam a  economia. Enquanto isso, cabeças estrangeiras, empreendedoras, focam as atenções num futuro mais promissor. O citado Facquar já é dono de tudo e, não fosse um pisca-pisca de percepção do governo federal, não teriam nascido as primeiras minerações de ferro, a exemplo da Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia, antecedente daquela que se tornaria a poderosíssima Companhia Vale do Rio Doce. Vargas revoga as posses estrangeiras. Deixa, assim, abertas as portas para a iniciativa nacionalista. Até que enfim!

AS FÁBRICAS DE TECIDOS

Essas representam a primeira alternativa à diversificação econômica, termo usado desde a transformação de Itabira em dependente da mineração. Mas, assim como sempre existem idealistas no mundo, depois da criação da Estrada de Ferro Vitória a Minas, que ainda se engatinha no transporte de mercadorias diversas, cuja logística não é ainda fortemente ativada, itabiranos mais corajosos partem para criar fábricas de tecidos. Duas delas se destacam: a da Pedreira, onde hoje é a Barragem de Santana, da Vale S.A., e da Gabiroba, situada na região que mantém este nome até os nossos dias. Ali, hoje, torna-se o maior núcleo populacional de Itabira.

A mineração engole a iniciativa têxtil em todos os sentidos, como fez e faz no caso do êxodo rural. Neste exemplo, ocorre um fato natural, segundo historiadores: mercadorias  vindas de outras plagas, via férrea, competem com os preços locais e chegam esmagando a competitividade local. Parado no tempo, o itabirano, ao invés de enfrentar as dificuldades, cruza os braços e fecha seus empreendimentos. Até hoje o andar da carruagem segue assim. As reações nunca ocorrem, a não ser nas mãos dos corruptos.

Por José Sana

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