A intensa atividade de mineração em Minas Gerais está deixando marcas profundas na saúde de seus moradores. O pó levantado por caminhões e obras de descaracterização de barragens de rejeitos tem contribuído diretamente para o aumento de doenças respiratórias, oculares e auditivas — o que reflete em gastos até 70% maiores com saúde pública, segundo relatório recente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG).
O estudo, intitulado “Saúde pública e mineração de ferro: uma análise comparativa no Estado de Minas Gerais”, comparou 20 municípios que mais recebem recursos da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração Mineral) com outras 328 cidades sem mineração no estado. A conclusão é clara: os repasses bilionários não têm garantido qualidade de vida proporcional aos impactos causados.
R$ 295 milhões recebidos, mas com alto custo para a saúde da população
As 20 cidades analisadas no levantamento — incluindo Ouro Preto, Itabira, Mariana, Brumadinho e Congonhas — foram responsáveis por receber 98,57% dos valores distribuídos pelo CFEM em 2024, somando um total de R$ 295,5 milhões. Em contraste, os outros 328 municípios analisados, que não convivem diretamente com a mineração, dividiram apenas R$ 40 milhões no mesmo período.
Apesar da maior receita, os dados revelam que os moradores das regiões mineradoras estão adoecendo mais e gerando maiores custos ao sistema público de saúde. O gasto médio per capita com saúde nas cidades com mineração foi de R$ 3.500, contra R$ 2.500 nas demais — uma diferença de 37,7%. Além disso, o gasto com internações por doenças respiratórias chega a R$ 1.200 nos municípios mineradores, quase 36% maior do que os R$ 886 registrados nas outras cidades.
Doenças nos olhos, ouvidos e mastoide crescem 70% em áreas afetadas pela mineração
O impacto vai além dos pulmões. Um dos dados mais alarmantes do relatório é o crescimento de 70% nos custos com internações por doenças nos olhos, ouvidos e na apófise mastoide (estrutura óssea próxima ao ouvido). Nesses casos, as cidades mineradoras registraram média de R$ 1.500 em gastos por internação, enquanto os municípios sem atividade mineradora gastaram em torno de R$ 900.
Em Antônio Pereira, moradores relatam que a poeira oriunda das obras e do tráfego constante de veículos pesados afeta até mesmo animais domésticos, gerando uma rotina de gastos com remédios e cuidados médicos. A percepção local é de que a mineração está afetando diretamente a qualidade do ar, da água e da saúde de toda a comunidade.
Riqueza mineral não significa bem-estar social
Mesmo com uma renda per capita quase duas vezes maior (R$ 12 mil contra R$ 6,9 mil nas cidades sem mineração), os dados indicam que a riqueza gerada não está sendo revertida, de forma eficaz, em bem-estar e prevenção de doenças. O relatório do TCE-MG levanta um alerta sobre a necessidade de políticas públicas mais eficientes e compensações reais à população que vive em áreas exploradas pela mineração.
Enquanto isso, comunidades seguem lidando diariamente com os efeitos colaterais de uma atividade econômica altamente lucrativa, mas socialmente desigual.