O Brasil está se movimentando para se tornar um centro estratégico na produção de aço com o hidrogênio verde, buscando convencer siderúrgicas alemãs a incluir o país no processo de fabricação. A iniciativa, liderada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), visa não apenas exportar o insumo energético, mas também agregar valor ao processo de produção de aço e outros produtos industrializados, aproveitando o potencial do Brasil em energias renováveis.
A importância do hidrogênio verde para a indústria global
Considerado o combustível do futuro, o hidrogênio verde é produzido a partir da separação das moléculas de água utilizando fontes de energia limpa. Na Europa, ele é visto como a principal alternativa aos combustíveis fósseis em setores altamente intensivos em energia, como a indústria do aço, vidro e fertilizantes. No entanto, a produção do hidrogênio verde ainda é cara e em pequena escala, o que limita a oferta do produto no mercado global.
Enquanto o Brasil tem se destacado com diversos projetos voltados para exportação, o governo brasileiro está propondo um modelo mais vantajoso: exportar não só o hidrogênio verde, mas também o produto final, como o HBI (Hot Briquetted Iron), um insumo intermediário essencial na produção de aço.
HBI: a chave para o futuro da produção de aço verde
O HBI é produzido a partir da redução do minério de ferro com hidrogênio e é uma etapa anterior à fabricação do aço nos fornos elétricos. Hoje, esse processo é tradicionalmente feito com gás natural, o que libera grandes quantidades de carbono na atmosfera. Em contrapartida, a produção de aço com hidrogênio verde gera muito menos impacto ambiental, alinhando-se aos objetivos de sustentabilidade da indústria global.
O Brasil tem um grande potencial para se tornar um fornecedor de HBI, aproveitando sua abundância de fontes de energia renovável. Com isso, o país poderia ajudar as siderúrgicas alemãs a reduzir custos e emissões de carbono, oferecendo uma alternativa mais eficiente em termos de logística e custos de produção.
A proposta brasileira ganhou força após a apresentação de um estudo realizado por um pesquisador alemão, durante um evento na Embaixada do Brasil em Berlim, nesta quinta-feira (20). O estudo revelou que as siderúrgicas alemãs poderiam economizar entre 8,7% e 31,5% caso realocassem algumas etapas de sua produção para países com maior disponibilidade de energia renovável, como o Brasil.
No caso específico da produção de aço semiacabado, um produto posterior ao HBI, a economia seria de 12,9%. Essa pesquisa foi publicada na respeitada revista Nature Energy e sugere que países como Brasil e Suécia se tornem os principais exportadores de aço sustentável para o mercado europeu.
O futuro da parceria Brasil-Alemanha na indústria do aço
O governo brasileiro argumenta que, ao importar produtos com maior valor agregado, como o HBI, a Alemanha teria uma vantagem econômica e ambiental considerável em relação à logística atual, que envolve a conversão de hidrogênio em amônia e reconversão nos portos europeus – um processo dispendioso e ineficiente em termos energéticos. O Brasil, com seu vasto potencial energético renovável, se posiciona como um parceiro estratégico para a transição energética no setor siderúrgico global.
Com a Alemanha sendo a maior produtora de aço da Europa, essa parceria representa uma grande oportunidade para o Brasil não apenas como exportador de insumos, mas como um protagonista na cadeia global de produção de aço sustentável.